Onésimo Silveira: “Aristides Pereira não tinha dimensão política, nem filosófica: era um seguidor”

Uma das expectativas em relação ao livro “Onésimo Silveira: uma vida, um mar de histórias” do jornalista José Vicente Lopes apresentado na passada sexta-feira, tinha a ver com as respostas que Silveira iria dar às considerações “pouco abonatórias” que Aristides Pereira fez sobre ele num livro do mesmo autor.

Feb 2, 2019 - 12:17
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Onésimo Silveira: “Aristides Pereira não tinha dimensão política, nem filosófica: era um seguidor”

Uma das expectativas em relação ao livro “Onésimo Silveira: uma vida, um mar de histórias” do jornalista José Vicente Lopes apresentado na passada sexta-feira, tinha a ver com as respostas que Silveira iria dar às considerações “pouco abonatórias” que Aristides Pereira fez sobre ele num livro do mesmo autor.

Onésimo considera que o primeiro Presidente da República de Cabo Verde “tinha uma dimensão institucional e instrumental, mas não tinha uma dimensão política nem… filosófica. Não era um pensador, era um seguidor…”. E conclui “de intelectual não tinha nada. Aliás, no livro das suas memórias dá bem conta disso. Ele ficou na história como um politico africano do consenso, mas o consenso é inimigo do compromisso”.

Pereira vetou regresso de OS ao PAICV

Neste livro, Onésimo confirma que, de facto, em 1990, no fim do regime do partido único, esteve prestes a reconciliar-se com o PAICV, mas o então Secretário-geral Aristides Pereira vetou o seu regresso”. Não sei porquê, o Aristides teve sempre uma reserva visceral contra mim. Eu nunca bajulei. Nem a ele, nem ao Cabral. A ninguém mesmo. O Aristides era daqueles que dizia que era preciso cortar as rédeas ao Onésimo. Ora, a única rédea era a minha língua, o instrumento para a expressão do meu pensamento e das minhas profundas convicções”.

Silveira revela que em 1990 o seu nome foi levado à Comissão Política e ao Conselho de Ministros para o cargo de Embaixador em Lisboa, cargo que viria a ocupar no primeiro mandato de José Maria Neves como Primeiro-ministro (2001) e Pedro Pires como Presidente da República, mas foi vetado pelo então Secretário-geral do PAICV e Presidente da República. Silveira diz no livro que tinha o apoio de Pedro Pires, na altura Primeiro-ministro, de Abílio Duarte, Presidente da Assembleia Nacional e de Silvino da Luz, Ministro dos Negócios Estrangeiros. Mesmo assim, Aristides vetou o seu nome. Questionado se acha que Aristides podia sozinho vetar o seu nome contra a vontade de Pires, Abílio e Silvino, responde: “Temos de falar com muita cautela sobre a responsabilidade colectiva no PAICV. No partido único, a responsabilidade acaba sempre por ser de uma só pessoa. No tempo de Cabral ninguém ousava criticar. Ele era o pensador e único responsável pelas grandes decisões do partido.

Desaparecido Cabral, Aristides teve de vestir essa farda para que o PAIGC não ficasse órfão. Aristides não herdou só o partido, herdou também o modo de dirigir o partido. Portanto, não querendo ele certas coisas, elas simplesmente não avançavam. Por outras palavras, não querendo ele que Onésimo fosse reintegrado, isso não avançou, simplesmente”.

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