Autoflagelo do PAICV nas disputas internas que podem arriscar 2026, erroneamente, parecendo fácil

A turbulência interna que marca os bastidores do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) tem se intensificado, resultando em um ambiente de desgaste político que, se não controlado, pode comprometer seriamente as perspectivas da legenda nas eleições de 2026. Entre conflitos internos, disputas de poder e acusações mútuas, a grande questão que se coloca é se o PAICV, com sua histórica relevância política no país, será capaz de superar os desafios internos e se manter competitivo nas eleições presidenciais e legislativas que se aproximam.

Mar 7, 2025 - 06:56
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Autoflagelo do PAICV nas disputas internas que podem arriscar 2026, erroneamente, parecendo fácil

O PAICV, um dos maiores partidos políticos de Cabo Verde, atravessa um momento de fragmentação interna, caracterizado por lutas de facções que disputam o controle da liderança partidária. A questão de quem será o próximo Presidente do Partido e liderar o partido nas próximas eleições de 2026 tem gerado divisões profundas. 

A disputa pela presidência do partido, que deveria ser uma renovação saudável e um momento de união, transformou-se em um verdadeiro campo de batalha. Em um cenário onde a unidade deveria ser a prioridade, a polarização entre grupos rivais parece ser a principal dinâmica política interna.

Essa divisão dentro do partido se reflete em discursos públicos, declarações inflamadas e um clima de acusações mútuas. A falta de uma liderança forte e coesa coloca em risco a capacidade do PAICV de se posicionar como uma alternativa viável ao Movimento para a Democracia (MpD), partido governante, que, apesar de suas próprias dificuldades, parece estar mais alinhado em sua estratégia de liderança e coesão interna.

O termo “autoflagelo” foi cunhado por alguns analistas políticos para descrever o processo de autossabotagem política em que o PAICV está se envolvendo. Em vez de focar na reconstrução de suas bases eleitorais e no fortalecimento de sua imagem como alternativa política, o partido parece estar mais preocupado em resolver suas questões internas, muitas vezes de forma destrutiva.

Com uma retórica que frequentemente atinge os próprios membros do partido, a atmosfera interna no PAICV tem sido de desconfiança e de um jogo de poder que ameaça afastar a base de apoio tradicional. E enquanto isso acontece, o partido perde oportunidades de se conectar com a população e de formular propostas sólidas para o futuro de Cabo Verde. A autocrítica, muitas vezes necessária para o crescimento, tem se transformado em ataques pessoais que só aumentam a instabilidade interna e prejudicam a imagem pública do partido.

Em meio a essas disputas internas, há uma crescente percepção entre alguns membros do PAICV de que as eleições de 2026 serão fáceis de conquistar. Acredita-se, erroneamente, que a popularidade do governo actual está em declínio e que o PAICV se beneficiará disso. No entanto, essa visão pode ser um grande erro estratégico.

O MpD, apesar das suas críticas e desafios, tem se mostrado uma força resiliente, com uma estrutura sólida e uma base de apoio considerável, o que coloca em xeque a ideia de que o governo actual está à beira da queda. Além disso, as eleições não se ganham apenas com a descredibilização do adversário; é necessário apresentar propostas claras, consistentes e, sobretudo, uma liderança capaz de unir as diversas correntes internas do partido. Se o PAICV continuar a se auto-flagelar com disputas internas, será difícil para ele oferecer uma alternativa sólida e convincente ao eleitorado.

Outro ponto crítico que o PAICV parece ignorar é a necessidade de revitalizar suas bases locais, as quais sempre foram um pilar importante do partido. A polarização interna tem levado a uma desmobilização nas regiões mais distantes, onde o partido tradicionalmente possui maior apoio. A luta interna tem desviado o foco da construção de uma rede de apoio local forte e de um movimento político que se conecte de forma eficaz com as necessidades da população, especialmente nas zonas rurais.

Ao invés de buscar a renovação e a unidade em torno de um projeto comum, o partido se afunda em disputas pelo poder, esquecendo-se de que as eleições de 2026 exigem um esforço conjunto de mobilização e engajamento com os cidadãos. O risco de perder o apoio das bases locais, portanto, é real e preocupante.

No entanto, uma luz no fim do túnel pode ser vista na crescente mobilização de jovens dentro do PAICV. Muitos membros da juventude partidária têm feito esforços para promover uma renovação ideológica e de liderança, buscando aproximar o partido das questões mais atuais, como o emprego jovem, a educação e as tecnologias emergentes. A juventude representa uma importante fatia do eleitorado e é vital para qualquer partido político que queira se projetar para o futuro.

Se o PAICV conseguir integrar esses novos atores e promover uma liderança mais inclusiva e dinâmica, pode-se começar a reconstruir a confiança popular. No entanto, isso depende da capacidade do partido de superar suas divisões internas e de focar em questões que realmente interessem à população.

O PAICV está numa encruzilhada. Por um lado, a disputa interna pelo poder e a percepção de que as eleições de 2026 são “fáceis” podem ser uma ilusão perigosa. Por outro, a base de apoio do partido e sua capacidade de renovar a liderança e suas propostas para o futuro podem ser fundamentais para o sucesso nas eleições. Se o partido não conseguir se unir e focar em um projeto que vá além das disputas internas, o risco de perder relevância e permitir a perpetuação do MpD no poder será iminente.

A verdadeira questão para o PAICV não é se o partido pode vencer as eleições de 2026, mas se ele será capaz de se reerguer como uma força política coesa, capaz de representar os interesses de toda a população de Cabo Verde, ou se continuará a se autoflagelar com disputas internas que comprometem suas chances no futuro. O tempo está passando, e a janela de oportunidade para uma renovação eficaz está se fechando rapidamente.