Brava festeja o santo padroeiro - Hoje é dia de São João Baptista

Cidade de Nova Sintra, 24 de Junho de 2025 (Bravanews) - As festas de São João Baptista na ilha Brava, em Cabo Verde, são muito mais do que uma celebração religiosa, são um verdadeiro espectáculo de cultura, tradição e comunhão que pulsa no coração desta pequena e encantadora ilha. São João, o padroeiro, é honrado com uma devoção profunda e uma alegria contagiante, transformando a Brava num palco de cores, sons e sabores que perduram na memória de quem as vivencia.

Jun 24, 2025 - 04:52
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Brava festeja o santo padroeiro - Hoje é dia de São João Baptista

A atmosfera festiva começa a aquecer na véspera de São João, no dia 23 de junho. As ruas e praças ganham vida com os preparativos, e um burburinho animado preenche o ar. Uma das tradições mais marcantes são as fogueiras que se erguem em vários pontos, especialmente nas zonas rurais. Crianças e adultos reúnem-se à volta delas, partilhando histórias, risos e o calor do convívio. É comum ver grupos a dançar e a cantar músicas tradicionais, enquanto o aroma da comida caseira começa a pairar no ar. A noite da véspera é um convite à confraternização, um prelúdio mágico para o grande dia.

No dia 24 de junho, a ilha acorda com um fervor renovado. A procissão em honra a São João Baptista é o ponto alto das celebrações religiosas. A imagem do santo é levada em ombros por fiéis, percorrendo as ruas ao som de cânticos e orações, num percurso adornado com flores e panos coloridos. É um momento de fé intensa, onde a comunidade se une para expressar a sua devoção.

Após os ritos religiosos, a festa assume um caráter mais profano e exuberante. O "colá" é, sem dúvida, a dança mais emblemática das festividades de São João na Brava. Grupos de pessoas, vestidas com trajes tradicionais vibrantes, dançam ao som ritmado do tambor, do ferrinho e de outros instrumentos. Os movimentos são sincronizados e cheios de energia, refletindo a alegria e a vitalidade da cultura bravense. O "colá" não é apenas uma dança; é uma forma de expressão coletiva, um ritual que conecta as gerações e mantém viva a identidade da ilha.

 

As festas de São João são também um verdadeiro banquete para os sentidos. A gastronomia tradicional desempenha um papel central, com pratos que são passados de geração em geração. O cuscuz com mel de cana é uma iguaria indispensável, assim como a cachupa, preparada com esmero para alimentar os festeiros. Bolos, doces caseiros e o ponche, uma bebida alcoólica típica, são partilhados em abundância, convidando ao convívio e à celebração. Cada casa abre as suas portas para receber amigos e familiares, fortalecendo os laços comunitários através da partilha de comida e bebida.

A música é a alma das festas de São João. Além do "colá", outros ritmos tradicionais, como a morna e a coladeira, ecoam pelas ruas e praças. Grupos musicais animam os arraiais, convidando todos a participar na dança. As letras das músicas, muitas vezes, contam histórias da ilha, falam de amor, de fé e da vida no arquipélago, criando uma atmosfera de nostalgia e alegria simultaneamente. A dança e a música são veículos de expressão, libertação e união, onde todos, jovens e idosos, se deixam levar pelo ritmo contagiante.

O que torna as festas de São João na Brava verdadeiramente especiais é o forte senso de comunidade e família. Todos participam nos preparativos e nas celebrações, desde os mais novos aos mais velhos. As famílias reúnem-se, os emigrantes regressam à ilha para a ocasião, e o espírito de união é palpável. É um período de reencontros, de reforço dos laços e de celebração da identidade bravense. A solidariedade e a entreajuda são características marcantes destas festividades, onde a alegria de um é a alegria de todos.

Em suma, as festas de São João Baptista na ilha Brava são uma manifestação vibrante da alma cabo-verdiana. São um misto de fé e folia, de devoção e diversão, onde a tradição se encontra com a alegria contagiante. Mais do que um evento no calendário, são uma experiência imersiva que celebra a cultura, a união familiar e o espírito resiliente e acolhedor do povo da Brava, deixando em cada visitante a vontade de regressar para mais um São João.

As festas de São João na Brava não são apenas uma celebração folclórica; elas estão profundamente enraizadas na fé católica da população. São João Batista, o precursor de Jesus Cristo, é uma figura de imensa importância. A sua data de nascimento, 24 de junho, é celebrada como um dia de renovação, purificação e esperança. Na Brava, essa devoção manifesta-se em cada detalhe, desde as orações fervorosas até à alegria desmedida. É uma fusão harmoniosa entre o sagrado e o profano, onde a fé inspira a celebração da vida em comunidade.

As fogueiras, acesas na noite da véspera (23 para 24 de junho), são um dos elementos mais icónicos e carregados de simbolismo. Mais do que aquecer o ambiente, elas representam a purificação e a renovação. A tradição diz que saltar a fogueira, em alguns lugares, pode trazer sorte e afastar o mau-olhado. Na Brava, as fogueiras são pontos de encontro onde famílias e vizinhos se reúnem. As crianças, em particular, ficam fascinadas com o brilho e o calor, enquanto os mais velhos partilham histórias e provérbios. É um ritual ancestral que conecta a comunidade à terra e às tradições passadas, invocando proteção e boas colheitas.

O "colá" é, sem dúvida, a alma musical e dançante das festas. É uma dança de roda vibrante, com movimentos sincronizados e cheios de energia. Os participantes, muitas vezes, usam trajes coloridos e tradicionais, que incluem saias rodadas, blusas brilhantes e lenços na cabeça para as mulheres, e camisas e calças leves para os homens.

Os instrumentos musicais que impulsionam o "colá" são simples, mas poderosos:

  • Tambor: O coração do ritmo, marcando a pulsação da dança.

  • Ferrinho: Um instrumento de percussão metálico que acrescenta um som vibrante e agudo.

  • Cavaquinho: Embora menos proeminente no "colá" puro, pode aparecer em variações ou noutras músicas juninas.

  • Vozes: Os cantores entoam letras que falam do dia a dia, de amor, de louvor a São João e da vida na ilha.

O "colá" não é apenas uma dança performática; é um convite à participação. Todos, desde os mais pequenos aos mais idosos, são encorajados a juntar-se à roda, criando uma atmosfera de pura alegria coletiva. É uma expressão de identidade e de herança cultural que se manifesta de forma autêntica e apaixonada.

A procissão do dia 24 de junho é um momento de grande reverência. A imagem de São João é cuidadosamente adornada com flores frescas e tecidos bordados, simbolizando a pureza e a santidade do padroeiro. O cortejo percorre as ruas principais, que são previamente engalanadas com bandeirinhas coloridas, arcos de folhagem e painéis decorativos, muitos deles feitos à mão pela comunidade. O som dos cânticos religiosos e das orações acompanha a procissão, criando um ambiente de profunda espiritualidade e união.

A culinária é uma parte inseparável da celebração, refletindo a generosidade e a hospitalidade do povo da Brava.

  • Cuscuz com Mel de Cana: Esta é a estrela da mesa junina. O cuscuz, feito de milho, é cozido a vapor e servido com uma generosa porção de mel de cana, que lhe confere uma doçura e um sabor únicos. É um prato simples, mas profundamente reconfortante e saboroso.

  • Cachupa Rica: Não pode faltar a cachupa, o prato nacional cabo-verdiano, preparada com milho, feijão, e uma variedade de carnes e legumes. No São João, é feita em grandes quantidades para partilhar com todos.

  • Doçaria Tradicional: Diversos doces caseiros, como bolinhos de chuva, pastéis de milho e broas, são preparados com carinho e oferecidos aos visitantes.

  • Ponche: Uma bebida alcoólica à base de aguardente de cana, mel de cana e, por vezes, especiarias, que aquece o corpo e anima o espírito dos festeiros.

O que realmente define as festas de São João na Brava é o forte sentido de comunidade e a abertura ao próximo. As casas abrem as suas portas para receber vizinhos, amigos e até desconhecidos. Não é raro ser convidado a entrar e partilhar uma refeição ou uma bebida. Os emigrantes que vivem noutros países fazem questão de regressar à ilha nesta época, fortalecendo os laços familiares e com a terra natal. É um tempo de reconciliação, de partilha e de renovação de amizades, onde as diferenças são deixadas de lado em prol da celebração coletiva. A alegria é contagiante, e a participação de todos, desde os preparativos até ao fim da festa, é fundamental para o seu sucesso.