Brava e a situação de ligação marítima, 50 anos depois o que mudou?

Cidade de Nova Sintra, 30 de Junho de 2025 (Bravanews) - A Ilha Brava, em Cabo Verde, enfrenta hoje uma situação precária em termos de ligação marítima, um contraste gritante com o passado e uma preocupação para o futuro. Ao analisarmos o que mudou nos últimos 50 anos, percebe-se um declínio acentuado na frequência e regularidade das conexões, impactando diretamente a vida dos seus habitantes e o desenvolvimento da ilha.

Jun 30, 2025 - 04:12
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Brava e a situação de ligação marítima, 50 anos depois o que mudou?
Foto Juan Roch

Nos anos 80, a Brava desfrutava de uma situação de conectividade bem mais favorável. A extinta Companhia Arca Verde, detida pelo Estado, operava vários navios que garantiam ligações com alguma frequência entre a Brava e as outras ilhas. Essa presença estatal no transporte marítimo era fundamental para a mobilidade e o abastecimento da ilha, proporcionando uma certa regularidade e previsibilidade para os moradores.

A década de 90 trouxe consigo inovações que pareciam prometer um futuro ainda mais conectado para a Brava. A inauguração do aeródromo de Esparadinha abriu uma nova porta para o transporte aéreo, complementando as ligações marítimas. Além disso, a ligação por ferry boat com os navios Furna, Sotavento, Barlavento e Praia Água reforçou a conectividade marítima, oferecendo opções diversificadas para os passageiros e para o transporte de mercadorias.

Avançando para junho de 2025, a realidade da Brava é preocupante. A ilha está ligada às outras apenas uma vez por semana e de forma irregular. Essa situação representa um retrocesso significativo em comparação com as décadas anteriores. A intermitência e a escassez das ligações impactam diretamente”

  • A economia local: Dificultando o escoamento de produtos agrícolas e pesqueiros, bem como o abastecimento de bens essenciais para a ilha.

  • O turismo: Tornando a Brava menos acessível e atrativa para visitantes, apesar de seu potencial turístico.

  • A vida dos residentes: Gerando isolamento, dificultando o acesso a serviços de saúde, educação e outras oportunidades nas ilhas vizinhas.

  • O investimento e desenvolvimento: Afugentando potenciais investidores que veem na precariedade dos transportes um obstáculo.

As mudanças na última metade do século são multifatoriais:

  • Privatização e desinvestimento estatal: A saída da Companhia Arca Verde e a subsequente privatização ou enfraquecimento do transporte marítimo estatal levaram a uma menor priorização da regularidade e frequência das rotas menos lucrativas, como a da Brava.

 

  • Foco em rotas mais rentáveis: As operadoras privadas tendem a priorizar rotas com maior volume de passageiros e carga, deixando ilhas como a Brava, com menor demanda aparente, com serviços precários.

 

  • Desafios do Aeródromo: Embora o aeródromo de Esparadinha tenha sido uma esperança, sua operação pode ter enfrentado desafios de manutenção, viabilidade econômica ou prioridade em comparação com outros aeródromos, o que pode ter limitado sua contribuição efetiva para a conectividade da ilha.

 

  • Infraestrutura e Manutenção: A falta de investimento contínuo na infraestrutura portuária e na manutenção de embarcações pode ter contribuído para a diminuição da capacidade e da frequência das ligações.

Em resumo, a situação atual da Brava é um reflexo da complexidade do setor de transportes em Cabo Verde e da necessidade de políticas que garantam a conectividade e o desenvolvimento equitativo de todas as ilhas, especialmente as mais periféricas. A Ilha Brava, que outrora esteve mais conectada, agora clama por soluções que revertam esse quadro de isolamento e irregularidade.