Cabo Verde em destaque em novo estudo climático sobre aquecimento recorde e resfriamento rápido no Atlântico Equatorial

Novo estudo destaca o papel estratégico de Cabo Verde na análise de variações extremas no Atlântico Equatorial em 2024. A região, chave para o desenvolvimento de furacões, foi diretamente afetada por oscilações recordes de temperatura do mar.

Jul 13, 2025 - 08:07
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Cabo Verde em destaque em novo estudo climático sobre aquecimento recorde e resfriamento rápido no Atlântico Equatorial

Um novo estudo científico publicado por investigadores da Universidade de Miami e da NOAA revelou um fenómeno climático extremo no Atlântico Equatorial em 2024, com implicações diretas para Cabo Verde. A pesquisa documentou o aquecimento mais intenso já registado na superfície do mar na região, seguido de uma queda abrupta e sem precedentes de temperatura, a mais rápida em mais de 40 anos de observações por satélite.

Este fenómeno — apelidado de “climate whiplash” ou chicote climático — tem consequências significativas para regiões costeiras da África Ocidental, incluindo Cabo Verde, e afeta diretamente o desenvolvimento de furacões tropicais nas imediações do arquipélago. Segundo o estudo, compreender melhor essas variações extremas pode melhorar previsões sazonais e ajudar comunidades como as cabo-verdianas a se prepararem para os impactos em setores críticos como infraestruturas, agricultura, gestão de recursos hídricos e proteção civil.

“O Atlântico equatorial nunca esteve tão quente e depois tão frio em tão pouco tempo”, afirmou Franz Philip Tuchen, autor principal do estudo e cientista do Cooperative Institute for Marine and Atmospheric Studies (CIMAS), da Universidade de Miami. Ele alerta que o impacto mais notável foi sentido em toda a África Ocidental, com alterações nos padrões de chuva, incluindo o início antecipado das monções de verão e chuvas intensificadas no Sahel e no deserto do Sahara.

As temperaturas de superfície ultrapassaram os 30 °C em fevereiro e março de 2024, valores sem precedentes desde o início dos registos por satélite. Esse aquecimento extremo foi impulsionado por uma combinação rara de anomalias de vento associadas ao El Niño e alterações lentas nas correntes oceânicas profundas, que geraram uma onda Kelvin descendente — responsável pelo acúmulo de calor na camada superior do oceano. Em maio, uma reversão repentina dos ventos gerou uma nova onda Kelvin, desta vez ascendente, provocando o resfriamento abrupto da superfície oceânica.

Para Cabo Verde, localizado na faixa atlântica tropical onde nascem muitos dos furacões mais poderosos, esses acontecimentos têm implicações diretas na monitorização e previsão de tempestades. O estudo reforça a importância de investir em modelos climáticos avançados que possam antecipar esse tipo de evento e mitigar os seus efeitos sobre as populações insulares vulneráveis.

O trabalho, intitulado “Record Warmth and Unprecedented Drop in Equatorial Atlantic Sea Surface Temperatures in 2024”, foi publicado a 23 de junho de 2025 na revista científica Geophysical Research Letters, da American Geophysical Union. A investigação foi financiada por programas da NOAA dedicados ao estudo de climas tropicais e envolveu cientistas de instituições dos EUA, Itália e Alemanha.

Este estudo coloca Cabo Verde no centro de uma discussão global sobre mudanças climáticas, resiliência costeira e previsão meteorológica de precisão, reafirmando o papel estratégico do arquipélago na compreensão e monitoramento do clima atlântico tropical.