700 mil contos depois e a água continua a ser o maior problema da Ilha
Cidade de Nova Sintra 4 de Dezembro de 2025 (Bravanews) - A ilha da Brava continua a enfrentar um dos seus desafios mais persistentes: a falta de água. Apesar do investimento de cerca de 700 mil contos para reforçar o sistema de abastecimento, a realidade no terreno mostra que a solução prometida está longe de ser alcançada.
O plano apresentado incluía uma dessalinizadora moderna, capaz de aumentar significativamente a oferta de água potável, um sistema de energia solar, para reduzir custos e assegurar sustentabilidade e novos furos de captação, destinados a garantir maior autonomia hídrica.
A promessa era clara e ambiciosa: resolver de vez o problema da água na Brava. Porém, após toda a obra concluída e equipamentos montados, surgiu um obstáculo que coloca o projeto em risco — e que, segundo especialistas, deveria ter sido identificado logo no início.
As análises realizadas à água captada revelaram níveis excessivos de manganês, um metal pesado que, em grande concentração, representa riscos significativos para a saúde pública. Crianças, idosos e pessoas com condições de saúde vulneráveis são os mais expostos aos efeitos tóxicos.
O consumo prolongado de água com manganês acima dos limites recomendados está associado a alterações neurológicas, déficit de memória, dificuldades de atenção e problemas motores.
Mas os problemas não ficam por aqui.
O manganês não afeta apenas os consumidores — afeta também a infraestrutura montada. As membranas da dessalinizadora, que normalmente têm uma vida útil entre cinco a seis anos, passam a durar apenas alguns dias quando expostas a níveis elevados deste metal.
Cada membrana custa caro, e o desgaste precoce torna o sistema inviável economicamente. Na prática, significa que, o equipamento existe, mas não pode funcionar, os recursos investidos não produzem água potável e a ilha continua dependente de soluções improvisadas e abastecimentos irregulares.
Com a água bruta inutilizável nos furos perfurados, especialistas defendem que será necessário procurar novas zonas de captação, com aquíferos de melhor qualidade e/ou repensar completamente o modelo do projeto, incluindo pré-tratamentos avançados ou outras alternativas tecnológicas.
Enquanto isso, as populações da Brava mantêm-se à mercê de um abastecimento frágil, insuficiente e inclinado para o racionamento. Famílias, agricultores, comerciantes e serviços públicos continuam a viver entre esperança e frustração.
Como é que um investimento de tal dimensão — quase 700 mil contos de dinheiro público — avança sem que a qualidade da água seja garantida antes?
A ausência de estudos aprofundados ou o eventual desfasamento entre o planeamento e a execução levantam dúvidas difíceis de ignorar. A situação reforça um sentimento crescente entre os bravenses: o de que projetos estruturantes para a ilha sofrem frequentemente de falta de rigor, planeamento deficiente e má supervisão.
Até que as autoridades apresentem soluções claras e viáveis, a Brava continua a viver um paradoxo doloroso, pois tem a infraestrutura para produzir água, mas não tem água adequada para aproveitar essa infraestrutura.
E, mais uma vez, é a população que paga o preço.
















