Brava vive dias de angústia com prateleiras vazias, falta de água nas lojas e emigrantes em risco de perder seus empregos, pessoas com consultas adiadas devido a nova ruptura no transporte marítimo

Ilha da Brava, 8 de novembro de 2025 – Pela quarta vez neste ano, a ilha da Brava enfrenta uma grave ruptura no transporte marítimo, mergulhando a população numa situação de desespero e incerteza. Desde o dia 3 de Novembro, os bravenses vivem dias de dificuldade, com prateleiras vazias, escassez de produtos essenciais, pessoas com consultas adiadas, emigrantes com férias prolongadas e risco de perderem seus empregos.

Nov 8, 2025 - 14:03
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Brava vive dias de angústia com prateleiras vazias, falta de água nas lojas e emigrantes em risco de perder seus empregos, pessoas com consultas adiadas devido a nova ruptura no transporte marítimo
Foto: J Rex Wolf

A situação tem impacto directo na vida das famílias, do comércio local e de dezenas de emigrantes que se encontram na ilha e que veem os seus planos completamente alterados. Muitos deles, que deveriam regressar aos Estados Unidos ou à Europa, já admitem o risco de perder os seus empregos, uma vez que não há garantia de quando o transporte será restabelecido.

“Estamos praticamente isolados. As prateleiras estão vazias, não há água engarrafada, e quem tinha consultas ou viagens marcadas teve de adiar tudo. A sensação é de abandono total”, desabafa uma residente de Nova Sintra.

Segundo comerciantes locais, os estoques de produtos alimentares, gás e bebidas já se encontram em níveis críticos. Alguns estabelecimentos começaram a racionar o que ainda resta, enquanto outros simplesmente fecharam as portas, incapazes de continuar a operar sem reposição de mercadorias.

Os impactos atingem também o sector da saúde. Consultas e deslocações médicas para outras ilhas foram adiadas, agravando o sofrimento de quem depende do transporte marítimo para tratamentos regulares.

Apesar da gravidade da situação, reina um “silêncio sepulcral” entre as autoridades responsáveis. Muitos bravenses criticam a falta de uma resposta concreta por parte do governo e dos representantes políticos da região, que, segundo dizem, prometeram defender os interesses da população mas permanecem calados perante mais uma crise que expõe a vulnerabilidade da ilha.

Este é o quarto episódio de ruptura no transporte marítimo em 2025, um número alarmante que demonstra a fragilidade estrutural das ligações marítimas com a Brava. A irregularidade das ligações tem sido uma das maiores queixas da população e dos emigrantes, que veem o desenvolvimento da ilha travado por um problema que se repete ano após ano sem solução definitiva.

“Até quando a Brava vai pagar o preço do isolamento?”, questiona um morador. “Não se trata apenas de transporte, mas de dignidade. Queremos apenas ter as mesmas condições que os outros cabo-verdianos.”

Enquanto as promessas não se cumprem e os navios continuam ausentes, a pequena ilha da Brava volta a sentir o peso do esquecimento. Entre a esperança e a revolta, os bravenses aguardam — mais uma vez — por um barco que traga não apenas mantimentos, mas também um sinal de que alguém, em algum lugar, ainda se importa com o destino desta terra esquecida.