Mãe cabo-verdiana com green card fica 12 dias detida no Aeroporto Logan
Uma mãe cabo-verdiana residente em Rhode Island está detida há 12 dias no Aeroporto Logan, em Boston, e pode ser transferida para o Maine por falta de instalações adequadas para mulheres em Massachusetts. A detenção ocorreu após seu retorno de Cabo Verde, apesar de possuir green card há décadas. As autoridades alegam “histórico criminal”, mas a defesa afirma que os registros são antigos e legalmente irrelevantes. O caso expõe a falta de capacidade nos centros de detenção federais.
BOSTON, Massachusetts — Uma mulher cabo-verdiana residente em Rhode Island permanece detida há 12 dias no Aeroporto Internacional Logan, em Boston, sem explicações claras sobre o motivo da sua custódia prolongada. A situação levou o governo federal a preparar a transferência da detida para uma unidade no Maine, já que o prazo judicial para justificar sua permanência no aeroporto está prestes a expirar.
Segundo documentos apresentados ao tribunal, as autoridades de imigração e alfândega admitem que o local onde Eva Mendes, 48 anos, está detida não é adequado para longos períodos, e que vêm tentando encontrar uma instalação apropriada no estado de Massachusetts — até agora, sem sucesso.
“Eu tive que concordar com essa transferência. Não há camas disponíveis para mulheres em Massachusetts. Isso é uma violação dos direitos das mulheres”, afirmou o advogado de Mendes, Todd Pomerleau, que conseguiu falar com a cliente apenas no sábado. “Eles nem dizem à pessoa por que ela está detida. Ela perdeu o nascimento do primeiro neto. Ela chorou durante toda a ligação.”
Mendes, mãe de seis filhos e portadora de green card desde os 8 anos, foi detida em 5 de novembro pela Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) ao retornar de Cabo Verde. A viagem ocorreu para acompanhar a família após a morte do irmão — a primeira vez em 40 anos que viu a mãe.
O CBP justificou a detenção mencionando um “histórico criminal e condenações anteriores”, sem fornecer detalhes. Pomerleau, no entanto, considera improvável que registros antigos sejam a causa.
“Ela teve uma pequena acusação há cerca de 20 anos, na qual declarou ‘não contestar’. Também teve algumas infrações quando era muito jovem, com 18 ou 19 anos, antes de 1997. Pela lei e por decisão da Suprema Corte, esse tipo de registro não pode ser usado contra ela”, explicou.
Um documento judicial datado de sexta-feira afirma que, “apesar dos melhores esforços, ICE e CBP não conseguiram garantir um espaço adequado para a peticionária em uma unidade em Massachusetts”.
Para Kerry Doyle, ex-vice-conselheira geral do Departamento de Segurança Interna, o caso evidencia o atual problema de capacidade limitada nas unidades de detenção.
“Simplesmente não há lugares suficientes neste momento”, afirmou. Segundo ela, detenções em áreas de aeroporto dificultam acesso adequado a comida, chuveiros e comunicação — situação semelhante à vivida por migrantes retidos na fronteira, cujas famílias muitas vezes não conseguem localizá-los.
Doyle também alertou viajantes residentes permanentes:
“Se você já teve qualquer interação com a polícia ou com o sistema judicial — mesmo algo de 20 ou 30 anos atrás — é fundamental consultar um advogado de imigração antes de sair do país.”
Pomerleau afirma que sua cliente fez exatamente isso e foi informada pelas autoridades de imigração de que não teria problemas para retornar aos Estados Unidos. O Departamento de Segurança Interna não respondeu aos pedidos de esclarecimento sobre essa alegação nem forneceu detalhes sobre as acusações que pesam contra Mendes.
















