Proliferação de grupos de apoio à ilha Brava na diáspora expõe fragilidades graves na transparência e prestação de contas
Cidade de Pawtucket, 29 de Dezembro de 2025 (Bravanews) - Nos últimos anos, a diáspora bravense tem assistido a uma crescente proliferação de grupos e movimentos de apoio à ilha Brava, criados com o objetivo declarado de mobilizar recursos, ajudar famílias carenciadas, apoiar iniciativas sociais, culturais e, em alguns casos, responder a situações de emergência. Apesar do espírito solidário que historicamente caracteriza os filhos da Brava espalhados pelo mundo, esta multiplicação de grupos tem vindo a levantar sérias preocupações quanto à falta de mecanismos claros de prestação de contas e transparência.
De acordo com informações recolhidas pela Bravanews, muitos destes grupos funcionam de forma informal, sem estatutos públicos, sem relatórios financeiros regulares e sem critérios claros sobre a gestão dos fundos arrecadados junto da comunidade emigrada. A situação torna-se ainda mais preocupante quando, ao serem confrontados por doadores ou membros da própria comunidade sobre a origem, o destino e a aplicação dos recursos, alguns responsáveis recusam-se pura e simplesmente a prestar contas.
Segundo relatos obtidos pela nossa redação, esta recusa tem sido um dos principais fatores de desconfiança e desgaste no seio da diáspora bravense. “Quando alguém pergunta quanto foi arrecadado ou para onde foi o dinheiro, a resposta muitas vezes é o silêncio ou uma reação hostil”, contou um emigrante bravense que pediu anonimato. “Questionar não deveria ser visto como ataque, mas como um direito legítimo de quem contribui.”
A Bravanews apurou ainda que vários elementos que integraram alguns destes grupos decidiram afastar-se após identificarem indícios de falta de transparência e má gestão. Ex-membros relatam situações em que decisões financeiras eram tomadas por um número muito restrito de pessoas, sem consulta ao coletivo, e sem qualquer tipo de registo acessível aos restantes integrantes. Em alguns casos, referem-se a despesas mal explicadas, ausência de comprovativos e promessas de prestação de contas que nunca se concretizaram.
“Entrei com boa fé, para ajudar a ilha”, relata um antigo membro de um grupo da diáspora. “Mas quando comecei a pedir clareza sobre as contas, passei a ser visto como problema. Percebi que não havia abertura para transparência e decidi sair.” Estes testemunhos reforçam a perceção de que a falta de prestação de contas não é um episódio isolado, mas um padrão que se repete em vários contextos.
Outro aspeto que preocupa a comunidade é a constante criação de novos grupos, muitas vezes por pessoas que já estiveram ligadas a iniciativas anteriores que acabaram envoltas em polémicas internas. Em vez de se fortalecerem estruturas existentes e credíveis, opta-se pela fragmentação, o que dificulta o controlo social e enfraquece a confiança dos doadores.
Analistas comunitários alertam que a ausência de transparência pode comprometer seriamente a solidariedade da diáspora para com a Brava. A longo prazo, o risco é que doadores deixem de contribuir, penalizando projetos legítimos e necessidades reais da população na ilha. “Sem confiança, não há solidariedade sustentável”, sublinha um especialista em associativismo ouvido pela Bravanews.
Perante este cenário, cresce o apelo para que os grupos de apoio à ilha Brava na diáspora adotem práticas básicas de boa governação: publicação regular de relatórios financeiros, criação de contas bancárias específicas e auditáveis, definição clara de objetivos e responsabilidades, bem como abertura ao escrutínio da comunidade. Muitos defendem ainda que a transparência deve ser um princípio inegociável e não uma opção facultativa.
A ilha Brava, que tanto depende do apoio dos seus filhos na diáspora, merece iniciativas sérias, responsáveis e transparentes. A solidariedade não pode servir de escudo para a opacidade nem para a má gestão. Exigir prestação de contas não divide a comunidade; pelo contrário, é um passo essencial para proteger a credibilidade das verdadeiras ações de apoio à Brava e garantir que a ajuda chega, de facto, a quem mais precisa.
















