O aproximar da campanha eleitoral e a sana intenção de ludibriar a população da Brava

Cidade de Nova Sintra, 4 de Dezembro de 2025 (Bravanews) - A recente intensificação das ligações marítimas para a ilha Brava e a presença diária de figuras de topo do Estado têm gerado debate aceso entre residentes, emigrantes e observadores atentos da política cabo-verdiana. Um cidadão bravense, em reflexão enviada à nossa redação, traduz um sentimento que tem ganhado corpo na sociedade local: a desconfiança.

Dec 5, 2025 - 17:37
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O aproximar da campanha eleitoral e a sana intenção de ludibriar a população da Brava

Segundo o testemunho, “já fomos ludibriados demais e por isso ninguém confia”. Este desabafo resume uma percepção amplamente partilhada por muitos bravenses que veem, nas mudanças súbitas das últimas semanas, sinais de oportunismo político — sobretudo num período marcado por disputas políticas e pela crescente pressão da população relativamente ao transporte marítimo.

A indignação popular ganhou força quando, no âmbito da Presidência da República na ilha Brava, o navio Kriola começou subitamente a escalar o Porto da Furna quatro a cinco vezes por semana. Para muitos, trata-se de um alívio momentâneo — mas também de motivo de estranheza.

A pergunta que ecoa na opinião do bravense é clara e sentida.  Se antes não era possível aumentar as viagens por limitações contratuais com a CV Interilhas, como foi possível fazê-lo agora?

Durante anos, o Governo afirmou repetidamente que não tinha controle sobre a empresa devido aos termos do contrato de concessão. A impossibilidade de reforçar as ligações para Brava — mesmo perante protestos, denúncias, perdas econômicas e riscos humanitários — sempre foi atribuída a estes limites legais.

Por isso, agora, o aumento repentino da frequência marítima traz suspeitas legítimas e perguntas pertinentes. O contrato foi alterado? Se foi, porque não houve comunicação pública? Se não foi, então antes era ou não possível reforçar as ligações?

O desabafo do cidadão também destaca o que descreve como “uma romaria” de autoridades à ilha Brava. Presidente da República, Membros do Governo, deputados do Grupo Parlamentar do PAICV, equipas técnicas em supostas missões de serviço,

A presença, por si só, não seria alarmante. Porém, o facto de estas visitas coincidirem precisamente com o aumento das viagens marítimas deixa muitos residentes desconfiados das intenções políticas por trás desta “atenção repentina”.

O bravense sintetiza o sentimento popular com uma expressão comum,  “Quando a esmola é tanta, o pobre desconfia.”

Para completar a inquietação, o cidadão termina com uma pergunta que há anos circula nos debates nacionais, “Quem é o verdadeiro dono da CV Interilhas?”

A confluência de interesses, a opacidade no contrato e a sucessão de episódios que deixam o público sem respostas têm alimentado rumores, teses e suspeitas sobre quem realmente controla as decisões estratégicas da operadora — sobretudo as que mais afetam a ilha Brava.

Os bravenses — dentro e fora do país — têm pedido, de forma consistente, uma solução estrutural, contínua e transparente para o transporte marítimo. Mais do que viagens reforçadas durante momentos politicamente sensíveis, a ilha reclama, regularidade estável, navios adequados e fiáveis, previsibilidade, e comunicação clara sobre decisões que afetam diretamente a vida de milhares de pessoas.

O texto enviado por este cidadão bravense não é apenas um desabafo. É o reflexo de um sentimento coletivo de cansaço, descrença e exigência de responsabilidade política.

Até que respostas sejam dadas, a pergunta paira no ar: o que mudou realmente — o contrato, a vontade política ou apenas o calendário politico?