A COMÉDIA DA TACV - Por Antonio Varela

Cabo Verde é um país onde os hospitais mal funcionam, os barcos não circulam, e o povo reza por ajuda internacional sempre que chove demais — e, ainda assim, alguém pensou:

Sep 4, 2025 - 05:59
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A COMÉDIA DA TACV - Por Antonio Varela
“Sabe o que realmente precisamos? De uma companhia aérea internacional!”
Esqueçam os médicos. Esqueçam os barcos. Esqueçam o básico para a sobrevivência diária. Não, não, não. O que este arquipélago precisava mesmo era enfrentar a TAP e a Azores Airlines — dois gigantes da aviação — com a sua própria “David Airlines”, que aparece para a luta sem sequer trazer a fisga.
E vamos falar da jogada de mestre: alugar um avião que custa milhões só para voar exatamente as mesmas rotas que a TAP. Genial, não é? Exceto que — plot twist! — o avião nem sequer tem alcance para chegar ao mercado mais importante de Cabo Verde: Boston. É como comprar um barco de pesca que afunda em águas rasas e insistir que é perfeito para apanhar atum.
Fica a pergunta: onde é que esses decisores estudaram? Existirá uma universidade secreta chamada “Harvard para os Otimistas Sem Esperança”, com cursos em “Aviação Sem Lógica”? Ou talvez isto não seja negócio, mas sim privilégio: uma “companhia privada” conveniente para levar as elites nas suas férias europeias. Porque, de outra forma, meus amigos, isto é puro teatro cómico.
A parte triste é que a piada recai sobre o povo. Os chamados “cérebros” que tomam estas decisões passam a vida a provar, repetidamente, que a matemática básica lhes escapa. Dois mais dois, no mundo deles, é igual a: “alugar um avião que não precisamos.”
E assim, a punchline continua a ser sempre a mesma: Cabo Verde precisa desesperadamente do conhecimento, da disciplina e do bom senso da sua diáspora. Sem isso, continuaremos a assistir a esta tragicomédia — uma companhia aérea sem alcance, a competir com gigantes, enquanto o país espera por um barco para trazer arroz.
A TACV não é apenas uma companhia aérea.
É a prova viva de que a liderança cabo-verdiana confundiu a arte de governar com a comédia de stand-up.
Infelizmente, ninguém está a rir.