Aguada o esconderijo de Eugenio Tavares

Seguindo as passagens de Eugénio Tavares, isto na ressaca, ainda, de mais um Dia Nacional da Cultura que tem como patrono precisamente o grande poeta, trazemos no relato de Benvindo Neves a primeira crónica do Viagens pela Minha Terra no Turismo Sustentável em Cabo Verde.

Nov 21, 2025 - 16:01
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Aguada o esconderijo de Eugenio Tavares
Sejam bem-vindos, partimos rumo a Aguada, eterna morada de Eugénio Tavares, na ilha Brava. “Aguada, o “esconderijo” de Eugénio Tavares
Hoje levo-o comigo até Aguada, esse recanto quase que mítico, tanto evocado nas composições de Eugénio Tavares. Aguada era precisamente o refúgio do grande poeta bravense. Um lugar, dizem, de eleição onde ele, “Nhô Tatai, ia buscar inspiração para escrever a maioria das suas composições.
Na mais pequenina ilha habitada de Cabo Verde, facilmente pode-se pensar que todos os seus sítios são próximos e que não haverá grandes distâncias a serem percorridas. Mas, não é bem assim. Para se chegar à Aguada, é preciso desbravar montanhas, percorrer caminhos vicinais durante cerca de hora e meia. De carro, somente até Mato Grande. A partir dali, o aventureiro terá de caminhar cerca de meia hora até alcançar o povoado de Baleia.
Uma vez em Baleia, aproveite e reabasteça, leve água quantidade que baste e outros mantimentos porque agora tudo o que tem pela frente é deserto. Ao longo do caminho, um imenso castanho da terra árida e rochas abruptas. De quanto em vez um pequeno arbusto sobressai na paisagem acastanhada. Ora a descer, ora a subir, sempre por um trilho meio tosco, com aspecto que denota passagens pouco frequentes de seres humanos, pelo menos, hoje em dia.
Depois de cerca de 40 minutos de caminho, vislumbra-se Aguada lá embaixo, na base de uma encosta suavemente inclinada. Mas, ainda a que descer uma encosta e depois subir a ladeira do lado contrário. Chegamos, finalmente à Aguada. No sítio, só ruínas! A acompanhar-me, um guia, o Senhor Joel lá de Baleia é o meu cicerone. Contou-me mil histórias ao longo do percurso e, talvez por isso, não senti o caminho e nem sequer dei pelo tempo a passar.
Chegámos! “Esta é a antiga casa de Eugénio Tavares”, diz-me o senhor Joel, apontado para umas ruínas. Não há actualmente nenhum tecto, só paredes que ainda resistem à todas as intempéries e permanecem teimosamente erguidas. Isto parecia uma mansão, exclamo.
Estou radiante e de certa forma sinto-me privilegiado por ter alcançado este recanto por onde andava Eugénio Tavares. Mas, ao mesmo tempo, sou invadido por uma onda de tristeza ao olhar em redor e sentir no ar o espectro de abandono a que o local foi votado.”
Lamentamos interrompê-lo, mas nesta hora, pousamos a pena e deixamos a imaginação tomar conta de si, lembrando-lhe que sempre poderá ouvir as Crónicas da Viagem pela Minha Terra na @Rádio de Cabo Verde ou acompanhar mais detalhes na página do @Benvindo Neves.
Benvindo Neves