Carta aberta ao Senhor Primeiro-Ministro de Cabo Verde, Dr. José Ulisses Correia e Silva
Senhor Primeiro-Ministro, A ilha Brava, pequena na geografia mas imensa no espírito, ergue hoje a sua voz com a firmeza de quem carrega séculos de resistência, dignidade e esperança. Brava é forte. E porque é forte, exige ser vista, ouvida e reconhecida como parte fundamental do mosaico que compõe Cabo Verde.
(...) Durante demasiado tempo, os bravenses têm assistido a promessas adiadas, a prioridades deslocadas e a um silêncio institucional que contradiz o valor e o contributo desta ilha para o país. Hoje, dirigimo-nos a Vossa Excelência para afirmar, com respeito e determinação, que a Brava não pode continuar a ser tratada como periferia da pátria.
Precisamos ser reconhecidos.
Reconhecidos como comunidade que trabalha, que luta, que participa e que merece igualdade de oportunidades. Reconhecidos como cidadãos cabo-verdianos que, apesar das adversidades, continuam a acreditar no futuro desta nação.
As nossas vozes precisam ser ouvidas.
A distância não pode justificar o distanciamento político. A insularidade não pode ser desculpa para a invisibilidade. Os bravenses têm propostas, preocupações e sonhos que merecem chegar ao centro das decisões nacionais — e serem tratados com seriedade e urgência.
Senhor Primeiro-Ministro,
A situação do transporte marítimo é insustentável. A ligação da Brava ao resto do país continua frágil, imprevisível e insuficiente, afetando famílias, estudantes, doentes, produtores e toda a dinâmica económica da ilha. Sem transporte digno, não há desenvolvimento possível.
Falamos também de desenvolvimento económico, que está estagnado pela falta de investimentos estruturais e pela ausência de políticas claras para potenciar as capacidades locais. Brava não quer depender eternamente — quer autonomia económica, quer oportunidades, quer instrumentos para crescer.
No campo da assistência médica, a realidade continua vulnerável. Os bravenses ainda enfrentam obstáculos que outras ilhas não enfrentam: evacuações complexas, limitações de equipamentos, e falta de respostas rápidas em situações de emergência. A saúde não pode ser um privilégio geográfico — é um direito constitucional.
E, acima de tudo, reivindicamos o respeito pleno pelos direitos humanos dos nossos cidadãos. O direito à mobilidade, à saúde, ao desenvolvimento, à dignidade, à representação e à igualdade de tratamento. Direitos que, para os habitantes da Brava, continuam frequentemente condicionados.
Senhor Primeiro-Ministro,
Já chega.
Chega de sermos lembrados apenas em épocas de campanha. Chega de visitas protocolares sem soluções duradouras. Chega de discursos que não se traduzem em ações concretas.
Brava estende esta carta não como protesto vazio, mas como apelo sério a que o Governo reveja prioridades, honre compromissos e reconheça, de uma vez por todas, o valor desta ilha e do seu povo.
A pátria que todos amamos só será verdadeiramente forte quando todas as suas ilhas forem respeitadas, cuidadas e integradas no desenvolvimento nacional.
Brava merece mais.
Brava exige mais.
Brava continuará a lutar por mais.
Com elevada consideração,
Iris Macedo
















