Cidadão adoptado pela ilha Brava lança reflexão profunda sobre pertença, responsabilidade pública e o futuro da ilha

Cidade de Nova Sintra, 17 de Novembro de 2025 (Bravanews) - Uma longa e emotiva declaração enviada à Bravanews, sob pedido de anonimato, pretende promover uma ampla discussão entre residentes da Brava e membros da diáspora. O autor, que não nasceu na ilha, mas que cresceu e construiu nela a sua identidade, assinou um texto marcado por forte sentido de pertença e por um apelo direto à consciência colectiva sobre o rumo da ilha.

Nov 17, 2025 - 05:02
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Cidadão adoptado pela ilha Brava lança reflexão profunda sobre pertença, responsabilidade pública e o futuro da ilha

Apesar de não ser natural da Brava, o cidadão afirma identificar-se “orgulhosamente bravense”, sublinhando que a sua ligação à ilha transcende a origem biológica: “Cresci aqui com muito orgulho e não vejo razão nenhuma que me reduza ao limite de aceitar o desumanismo só porque  sou bravense”, escreveu, numa crítica implícita a atitudes que considera injustas ou desvalorizados dentro da própria comunidade.

No texto, o autor descreve um percurso realizado a pé pela cidade de Nova Sintra durante o horário de trabalho, numa manhã marcada por chuva e nevoeiro. A descrição, carregada de simbolismo, retrata primeiro uma chuva tímida que se escondia “num manto forte de nevoeiro”, como se tivesse receio de se revelar. Pouco depois, a natureza venceu a hesitação e a chuva desceu com força, num gesto que ele interpreta como um lembrete de que “a bênção não deve obediência ao homem”.

Este cenário natural serviu de pano de fundo para uma análise crítica, mas igualmente esperançosa, sobre o estado actual da cidade. O cidadão destaca ter visto uma Nova Sintra mais limpa, mais arrumada e mais florida, reconhecendo melhorias visíveis na organização urbana. Contudo, ressalta que ainda há “muito por fazer” e que o desenvolvimento da ilha exige continuidade, planeamento e envolvimento de todos.

Apesar dos sinais positivos, o autor alerta para um problema que, segundo ele, continua a preocupar os habitantes: as casas antigas e sobrados históricos, outrora pertencentes a famílias influentes conhecidas como “djentis grandis de Djabraba”, que hoje se encontram em estado avançado de degradação.

Para o autor, estas estruturas, além de representarem riscos à segurança pública, comprometem a memória arquitetônica da ilha e a sua identidade visual. A situação reforça, segundo ele, a necessidade urgente de políticas de conservação patrimonial e de mobilização comunitária para travar a deterioração.

Um dos pontos mais fortes da declaração é o apelo direto à necessidade de se ultrapassar dependências partidárias na governança local. Para o cidadão, a ilha precisa de um novo modelo de serviço público baseado na entrega total à comunidade, e não na lealdade a partidos.

“É preciso coragem e ciência para se desgarrar dos partidos e construir um novo modelo de servir a nossa ilha”, defendeu, acrescentando que quem não estiver disposto a servir “de corpo e alma” deve ter a honestidade de abandonar a pretensão de se considerar filho da Brava.

A afirmação desperta debate e ganha eco entre muitos bravenses que se reconhecem na frustração com a repetição de dinâmicas políticas que, na sua opinião, têm limitado o progresso da ilha.

Apesar das críticas e alertas, o tom final do texto é de esperança. O autor acredita que a Brava se reerguerá, mas sublinha que isso só será possível quando houver maior maturidade e união entre os seus habitantes, especialmente entre aqueles que “se julgam donos da ilha”.

A declaração reforça um sentimento coletivo de que a ilha precisa, mais do que nunca, de união, clareza de propósito e espírito de serviço.

O apelo deste cidadão adotado pela Brava tornou-se, assim, mais do que um desabafo: transformou-se numa chamada de atenção sobre o que a ilha tem sido, o que pode ser e o que exige, de cada um, para alcançar o futuro que merece.