Minha vida como musico, Ney Miranda, um depoimento na primeira pessoa
Nasci em 1973, numa pequena ilha chamada Brava — a menor ilha de Cabo Verde. Cabo Verde é formado por apenas 10 pequenas ilhas, localizadas na costa oeste da África. Meus pais me deram o nome de Emanuel Miranda, apelido (Ney).
Quando criança, eu já convivia com músicos na minha família. Meu pai tocava violino, meu avô, meus tios… também sou a quinta geração familiar do grande Eugénio Tavares. Ou seja, eu estava rodeado de música o tempo todo. Comecei a tocar por volta dos 6 anos de idade; meu primeiro instrumento foi o ukulele (cavaquinho). Lembro claramente de ir a um desfile de Carnaval onde havia muitas pessoas cantando e dançando. Havia também músicos tocando, e eu fiquei hipnotizado olhando para o cavaquinho. Quando cheguei em casa, peguei o meu cavaquinho e simplesmente comecei a tocar, do nada… e dali em diante continuei aprendendo cada vez mais.
Quando era criança, em Brava, alguns amigos me convidaram para entrar numa banda local — foi a primeira banda com que toquei. Mas nós não tínhamos instrumentos de verdade, eram mais instrumentos caseiros. Depois, quando eu tinha uns 12/13 anos, eu e minha família emigramos para os Estados Unidos. Quando chegamos lá, a vida era muito diferente daquilo a que eu estava acostumado: a comida, a cultura, o modo de vida… mas me adaptei rapidamente ao estilo americano.
Comecei a tocar na igreja quando tinha por volta de 14 anos — eu era coroinha. Com o tempo, lembro da primeira vez que meu primo me levou a um concerto onde ele se apresentava com a banda dele, chamada Cabo Verde 77. Ele me chamou ao palco para tocar uma música e, sendo tão jovem e com uma guitarra maior do que eu, chamei a atenção da plateia! As pessoas se aproximaram do palco para ver aquele menino pequeno e fofo tocar. E enquanto eu tocava, começaram a me dar dinheiro. Acho que naquela noite voltei para casa com uns 300 ou 400 dólares. Nos anos 1980, isso era muito dinheiro — especialmente para alguém da minha idade. Aquela foi minha primeira apresentação em um palco grande nos EUA, mas definitivamente não seria a última. Poucos anos depois, comecei a ser chamado para tocar em diferentes bandas, quando tinha uns 16/17 anos.
Toquei com a Brothers Band, uma bandinha que formamos com amigos da escola, mas como eles precisavam de um guitarrista, acabei migrando para guitarra. Depois, já um pouco mais velho, por volta dos meus 20 anos…
Fui chamado para tocar na melhor e maior banda da época: Jamm Band. Nessa fase eu estava aprendendo teclado e sintetizador. O vocalista do Jamm Band, Bius (que Deus o tenha), me viu tocando teclado e ficou impressionado com a rapidez com que eu aprendia. Então me convidou para entrar na banda. Fiquei super feliz, porque nessa época todos falavam de como o Jamm Band era bom. Para mim, entrar numa banda badass como aquela era uma honra e um privilégio. Isso foi por volta de 1991–1992.
A partir dali comecei a ser reconhecido por muitos músicos de alto nível. Em 1991, fui convidado a viajar para Cabo Verde com a banda Os Pecos para me apresentar. Mas nessa altura eu já tocava baixo. Foi quando comecei a viajar pelo mundo. Outra banda que me chamou foi a dos Mendes Brothers, muito conhecidos nos países PALOP. Comecei a tocar com eles e viajávamos bastante — para Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné, África do Sul etc. Também me apresentei com eles em Portugal. Nessa mesma época, comecei a fazer muitas gravações minhas e fui convidado a gravar com grandes artistas cabo-verdianos como Bana, Tito Paris, Mirri Lobo, Grace Évora e outros.
Jamais esquecerei a primeira banda “de verdade” com que toquei: a banda de meus primos e irmãos, Os Troubadours. Foi a primeira banda que me pagou para tocar — eu tinha cerca de 15 anos. Serei eternamente grato a eles. Eu era jovem e eles já eram mais velhos, mas me ajudaram a me tornar uma pessoa melhor através da música, sempre me guiando pelo caminho certo.
Quero falar um pouco também sobre a banda que ajudei a crescer: Kola Band — uma foto aparece no texto. Era só um grupo de amigos que se reunia para tocar em festas e eventos, e que acabou gravando um álbum em 2000, provavelmente intitulado “Tchoro d’Amor”. Outros músicos entraram com o tempo.
Avançando para 2025… Desde então fiz inúmeros shows em diversos países e muitos trabalhos de gravação, incluindo com artistas novos como Dari G, Bidonga, Benvindo Cruz, Kirino do Canto, Tchesco, Delfin Di Tete — só para citar alguns dos álbuns nos quais participei com pelo menos 10 faixas.
Atualmente estou trabalhando no meu próprio álbum de jazz/fusão cabo-verdiano, com cerca de 8 músicas. Ainda não tenho certeza do nome, mas provavelmente será “Tchuba di Noti”, que significa “Chuva à Noite”.
Fiquem atentos. Mais novidades em breve.
Ney Miranda e Gilberto Gil
Ney Miranda e Justino Delgado
Festival de Gamboa ano 2000
Para mais detalhes consulte o link https://certain-pike-ece.notion.site/My-life-as-a-musician-2a12d113c6c480e6923ee1bff97f14b9
















