Estamos tão absorvidos pelos desastres do nosso sistema político - Antonio Varela

Estamos tão absorvidos pelos desastres do nosso sistema político que esquecemos de refletir sobre onde deveríamos estar — e o quão distantes estamos do nosso verdadeiro potencial. Somos um povo único.

Aug 13, 2025 - 05:17
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Estamos tão absorvidos pelos desastres do nosso sistema político - Antonio Varela
Somos a pérola do Atlântico — um dia pertencente a Portugal, sim, mas moldada para sempre pelo toque de todos os cantos do mundo. Temos tudo: praias deslumbrantes, montanhas majestosas, um clima abençoado o ano inteiro, e acima de tudo, um arco-íris de pessoas cuja beleza e espírito transcendem fronteiras e culturas.
Se ao menos conseguíssemos unir os mais de um milhão de cabo-verdianos e seus descendentes espalhados pelo mundo — para regressarem, investirem e reacenderem a promessa da nossa terra — imagine o futuro que poderíamos construir. Imagine o que poderia ter sido, e mais importante ainda, o que ainda pode ser.
Basta navegar pelas redes sociais e ver os elogios que o nosso povo recebe — da beleza exterior à profundidade calorosa que nos define. E há uma palavra que sintetiza tudo isso, uma palavra que não existe em nenhum outro idioma: “Morabeza.”
É intraduzível, porque nenhuma outra cultura vive essa essência como nós. É exclusivamente nossa.
Não deixemos que discursos bonitos e promessas vazias de uns poucos privilegiados nos roubem o futuro coletivo. Somos um povo resiliente — bem recebido, amado e respeitado em todos os cantos do mundo. Somos reconhecidos pela nossa honestidade, alegria, calor humano e união. Não importa onde estejamos, ou quantos anos tenham se passado — carregamos Cabo Verde no coração.
Eu sonho com o dia em que esta visão se tornará realidade — e acredito que esse dia não está longe.
Aos nossos filhos — quer tenham nascido na Brava, em Boston, em Roterdão ou em Paris — digam-lhes que são especiais, digam-lhes que são cabo-verdianos. Que aprendam e se orgulhem da sua identidade. Talvez não tenhamos ouro, diamantes ou petróleo, mas temos algo mais valioso:
Nós.
O povo.
Uma criação de graça, força e beleza incomparável.
A todos os professores das ilhas: peço-vos — leiam esta mensagem aos vossos alunos. Ensinem-lhes o que significa ser cabo-verdiano. Mostrem-lhes que a sua dignidade foi forjada pela coragem dos nossos antepassados — desde os que fugiram da perseguição na Europa, aos que foram arrancados das costas africanas no tráfico desumano de almas. O sofrimento, a resistência e os sonhos deles deram origem a nós — um tecido vivo de cores, culturas e espírito inquebrável.
Nós somos Cabo Verde.
E ainda não terminámos a nossa história.
Antonio Varela