Fogo: Presidente da República abre IV Conferência da Década do Oceano com apelo à reconciliação entre humanidade e natureza
O Presidente da República, José Maria Neves, abriu hoje a 4.ª Conferência da Década do Oceano com um apelo à justiça ambiental, à solidariedade entre as Nações e à reconciliação entre a humanidade e a natureza.

A IV Conferência da Década do Oceano, que decorre hoje e sábado, na cidade de São Filipe e em Chã das Caldeiras, na ilha do Fogo, tem como lema “Unindo saberes, protegendo os mares: ciência oceânica para todos” e reúne cerca de duas centenas de participantes em representação de vários países, especialistas, instituições científicas e organizações internacionais.
Na sua intervenção, o Chefe de Estado destacou a importância simbólica e estratégica da realização da conferência na ilha do Fogo e na região Fogo/Brava e sublinhou o compromisso com a descentralização e a valorização das ilhas, bem como a urgente necessidade de proteger o “pulmão azul” do planeta que são os oceanos.
“Da ilha onde o fogo encontrou o mar e se fez terra, erguemos hoje a nossa voz em defesa do planeta azul. Nós somos filhos do mar. O oceano é o espelho onde a humanidade se revê — um espelho que nos desafia a reconciliar-nos com a natureza e connosco próprios”, afirmou o Presidente que acrescentou que o “modo como tratamos o oceano é o espelho do modo como tratamos a vida”.
Como Champion da União Africana para a Preservação do Património Natural e Cultural e Patrono da Aliança da Década da ONU para a Ciência Oceânica, José Maria Neves enfatizou o papel de Cabo Verde como um país oceânico e insular, pequeno em terra, mas um grande Estado oceânico pela vastidão das águas que o rodeiam e lhe conferem verdadeira dimensão de “Grande Estado Oceânico” cuja história, geografia e cultura estão intrinsecamente ligadas ao mar.
No seu discurso, o PR apresentou uma visão estratégica assente em cinco prioridades concretas para a acção ambiental e oceânica em Cabo Verde.
Um dos pilares consiste na consolidação da gestão integrada do território e do espaço marítimo, combatendo práticas insustentáveis como a apanha descontrolada de areia e a ocupação desordenada da orla costeira, assegurando uma planificação coerente entre o uso do solo, da orla costeira e do mar, assim como combater com determinação a poluição marinha, sobretudo a provocada por plásticos.
A segunda acção está ligada ao reforço da resiliência hídrica e energética, acelerando a transição para energias limpas e optimizando o uso de recursos como a água dessalinizada, enquanto a terceira diz respeito à promoção de uma economia azul inovadora e sustentável, com aposta na aquacultura, biotecnologia marinha, turismo responsável, indústrias alimentar e farmacêutica, transportes e indústrias criativas ligadas ao mar.
O investimento na literacia ambiental e oceânica, sobretudo entre os jovens, para construir uma consciência colectiva de respeito e protecção do meio ambiente e a expansão e gestão eficaz das áreas marinhas protegidas, com participação activa das comunidades locais e implementação das Reservas Mundiais da UNESCO nas ilhas do Fogo e do Maio foram as outras acções apontadas pelo chefe de Estado.
“Cabo Verde, enquanto Pequeno Estado Insular em Desenvolvimento (SIDS, sigla em inglês), assume-se como voz activa na defesa dos oceanos e das comunidades costeiras, propondo uma nova arquitectura financeira internacional que reconheça a vulnerabilidade como critério de acesso a financiamento e desenvolvimento sustentável”, disse José Maria Neves.
Segundo o mesmo, quem está na linha da frente do risco deve estar também na linha da frente da acção, defendeu José Maria Neves, reforçando o apoio à criação do Índice de Vulnerabilidade Multidimensional e a reforma da arquitectura financeira internacional, para que a vulnerabilidade seja reconhecida como critério legítimo de acesso a financiamento e a oportunidades de desenvolvimento.
O PR também destacou a vocação atlântica de Cabo Verde como ponte entre continentes e culturas, defendendo o fortalecimento de uma diplomacia azul africana baseada na ciência, na cooperação e na solidariedade.
Ao encerrar a sua intervenção, o PR deixou uma mensagem de esperança e responsabilidade partilhada.
“Daqui, da ilha do Fogo onde a terra nasceu do mar, lançamos uma chama azul e verde de esperança, que há de iluminar toda a Década do Oceano e muito além dela. Que cada país, cada cidade e cada pessoa se reconheça como guardiã do mar e da terra que nos unem”, disse.
A IV Conferência da Década do Oceano, promovida pela Presidência da República, decorre até ao fim de semana e integra diversos painéis sobre ciência oceânica, governança costeira, economia azul e educação ambiental.
O evento afirma-se como um espaço de convergência entre ciência, políticas públicas e cidadania, em defesa do oceano como património comum da humanidade.
José Maria Neves rendeu homenagem ao compositor, músico, activista social, pedagogo e político Romeu di Lurdes falecido quinta-feira em Portugal, mas destacou a presença da nadadora cabo-verdiana Tatiana Mendes, campeã mundial de nado livre, que foi convidada e participa na conferência.
Inforpress/Fim