São João Baptista/Brava: Henrique de Pina volta a apelar para a necessidade de se continuar a cumprir a tradição do mastro

Henrique de Pina, 79 anos, que desde os 12 faz o revestimento do “Mastro”, vivendo e mantendo viva esta tradição nas três festas da “Bandeira” da ilha Brava, pede aos jovens e entidades que procurem formas de aprender.

Jun 24, 2023 - 01:37
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São João Baptista/Brava: Henrique de Pina volta a apelar para a necessidade de se continuar a cumprir a tradição do mastro

Henrique de Pina, 79 anos, que desde os 12 faz o revestimento do “Mastro”, vivendo e mantendo viva esta tradição nas três festas da “Bandeira” da ilha Brava, pede aos jovens e entidades que procurem formas de aprender.

A ilha possui uma forte tradição em termos de Bandeira, mas existem aquelas, Santo António, São João e São Pedro, que, desde a antiguidade, vestem “Mastros” no Cutelo, Vila de Nova Sintra, não impedindo outras pessoas de fazerem pequenos mastros nas suas casas ou localidades, mas que o mastro “pai” fica é no Cutelo.

Entretanto, já lá vão algumas décadas que apenas um homem se dedica e tenta manter viva a tradição e, por isso, teme que a mesma acabe por perder ou morrer, assim como tem vindo a acontecer com as outras tradições da ilha.

Conforme contou à Inforpress, a sua ambição e vontade em fazer o Mastro iniciou desde os 12 anos, nos tempos antigos, que recordou como sendo o “tempo de Nho Tui, Nho Totoy, Frank”, figuras que vestiam o “Mastro”, em que ele ainda rapazinho, sentava-se no Cutelo, e prestava atenção em cada passo que eles davam para confeccionar e vestir o Mastro.

Mas agora, de acordo com o “mastreiro”, nenhum jovem demonstra esta ambição ou desejo em aprender e fazer o Mastro e neste quesito defende que mesmo as entidades na ilha deveriam primar para manter esta tradição, seja por formações ou indigitar alguém para aprender com ele, porque à beira dos 80 anos e com alguns problemas de saúde não sabe até quando vai aguentar.

“É a tradição da ilha e todos acham bonito, mas ninguém quer aprender”, lamentou Henrique Pina, realçando que tudo o que era genuíno e tradicional da ilha está a se perder, principalmente o espírito de inter-ajuda e o desejo de fazer aquilo que é “terra-terra”.

Recordou que quando criança, em todas as festas da “Bandeira”, deslocava-se até o Cutelo, e observava as pessoas a fazerem as “vergas”, ou a estrutura do Mastro, depois vestiam-no, e ele subia no Mastro e colocava o “mustareu”, pau que é içado à bandeira no fim e, como recompensa, recebia uma canastra (pão em diversos formatos) que levava para tomar café com a mãe e um outro irmão.

O quase octogenário, pois caso Deus lhe der vida e saúde completa 80 anos em Setembro do corrente ano, emocionou-se ao relembrar que, antigamente, as coisas eram bem diferentes, porque nas festas da bandeira, havia muitas actividades tradicionais que hoje já não são lembradas e nem realizadas.

Falou do “quebra pote”, “panha algorinha”, onde penduravam argolas nos cavalos e as pessoas iam apanhando.

Recordou ainda de um cavalo que se chamava Kalifa, que descreveu como sendo um cavalo branco, que dançava e não magoava ninguém, entrava nas casas, independentemente se era sobrado ou não, mas o cavalo tinha de subir para dançar em todas as casas que passava, conforme o ritual da ilha.

“Este cavalo, quando sentia o pau no tambor, dançava juntamente com as coladeiras, como se fosse uma pessoa”, contou, num misto de alegria e tristeza, por ver a tradição a “morrer dia após dia”.

Recordou ainda que na época, eram realizadas “boas feiras”, barracas e tudo era muito bom. Mas agora, acrescentou, “estão eliminando muitas destas tradições”.

E hoje, logo de manhã, às 7:00, estará a cumprir mais uma vez o ritual e a ilha inteira estraá presente num desfile animado, dirigindo-se ao Cutelo Grande, onde vão “vestir” o Mastro.

Por volta das 17:00, é dado o “bote”, ou seja, deitam abaixo o Mastro e as pessoas vão pegar aquilo que puderem e quem deseja tomar a “Bandeira” para festejar no ano seguinte.

Chegada esta hora, todos se deslocam ao Cutelo, alguns no cortejo juntamente com a bandeira e os tocadores e coladeiras, outros sozinhos, para botar a sorte e tentar arrematar alguns bens que se encontravam no Mastro, que segundo o mesmo colocam um pouco de tudo, desde pão, frutas, flores, banana, bebidas, dinheiro, entre outros.

A missão deste mastreiro termina anualmente com o bote ao mastro de São Paulo e São Pedro, que é feito a 29 de Junho.

 

Inforpress

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