A MINHA HOMENAGEM À MULHER QUE ME DEU A VIDA

Mamã Nair, só hoje recuperei forças para escrever estas mal traçadas linhas.

Jul 26, 2025 - 02:45
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A MINHA HOMENAGEM À MULHER QUE ME DEU A VIDA
A Matriarca parte para o céu, onde vai comemorar os seus 100 anos, ao lado de Deus, dos seus ente queridos, dos Santos e dos Anjos.
A minha Matriarca, já porque é a mãe de todas as luzes, a matriz de onde herdei tudo: a coragem, a ousadia, a firmeza, a honestidade, a simplicidade, a generosidade, a liberdade de espírito e a singela ideia de que só o trabalho dignifica o ser humano.
Aos 18 anos, pediu ao pai, João Branco, para ter a sua própria casa - quis ser autónoma e viver do seu trabalho. E começou a comprar cocos e açúcar para fazer doces e vender e ter os seus rendimentos. Assim, foi criando os seus filhos - são quatro: Bebeta, a mais velha, quem criou coberta de muito carinho, e que mais tarde a ajudou a cuidar dos mais pequenos, Tony, o segundo filho, que cresceu com o pai, por quem nutria uma amizade muito especial, talvez porque vivesse longe da sua “sulada” protetora, e a minha irmã gêmea, Maria José, e eu, por todos considerado o caçulinha. Deu-nos o pão, as letras e a candeia para alumiar todos os nossos caminhos. Mostrou-nos como fazer a nossa própria cana de pesca e a pescar os nossos peixes. A vida ensinou-a a ser dura e, às vezes, severa, mas nunca perdeu a serenidade e a ternura. Deu-nos tudo e ajudou-nos a superar todos os obstáculos.
Ainda muito jovem, quando a mãe dela morreu, tomou conta do pai e dos irmãos - era o segundo de nove - assumindo a liderança da casa. Confeccionava pratos tradicionais tão saborosos - tinha mãos de fada - que nunca mais comi coisas tão apetitosas, desde que ela deixou de cozinhar ou de fazer doces e geleias. Uma mulher de armas, que nunca se cansou de cuidar dos outros: pai, irmãos, filhos, sobrinhos, netos, bisnetos, trinetos, vizinhos e pessoas amigas. Tenho muitos, muitos irmãos de criação, estão no meu coração, trato-os com tamanho carinho. Recebia, com raro desvelo, os meus amigos que eu convidava lá para a casa, com doces e doçuras, que só ela sabia fazer, mais o carinho e a ternura, que lhe vinham da alma.
Matriarca, já porque é a minha arca, e nela deixou-me um tesouro enorme acumulado: a sua história de vida e todos os sinais digitais impregnados em mim.
Serás eternamente o meu ancoradouro e a minha fonte de inspiração. A nossa ligação é tão forte, tão íntima, tão intensa e tão enriquecedora, nunca mais desprender-nos-emos um do outro.
É uma morte que não separa, mãe, deixa-nos espiritualmente mais unidos. És a minha matriarca, pelas luzes, para a eternidade.
Até sempre, mamã Nair!