Adriano Custódio Mendes: o pioneiro cabo-verdiano que fez história no futebol argentino

Adriano Custódio Mendes, nascido em Cabo Verde e radicado na Argentina, fez história como o primeiro africano a jogar profissionalmente na AFA. Superou perdas e preconceitos, construiu vida em La Plata e mantém viva a ligação com as suas raízes, agora celebrando o feito histórico da seleção cabo-verdiana no Mundial.

Oct 27, 2025 - 08:30
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Adriano Custódio Mendes: o pioneiro cabo-verdiano que fez história no futebol argentino
Adriano Custódio Mendes

Nascido em Cabo Verde, Adriano Custódio Mendes conheceu a dureza da vida muito cedo. Aos oito anos, perdeu os pais vítimas de doença e viu o seu destino mudar radicalmente. Depois de quatro anos em Lisboa, onde aguardou a documentação necessária, partiu rumo à Argentina — país que acabaria por se tornar a sua casa definitiva.

Em 1973, graças à ajuda da irmã que vivia em La Plata, Adriano chegou ao país sem conhecer ninguém. O futebol, no entanto, rapidamente lhe abriu as portas. Cresceu no bairro El Dique, em Ensenada, e após uma breve tentativa frustrada no Gimnasia, acabou por ser acolhido pelo Estudiantes de La Plata, onde começaria uma carreira singular.

Foi Raúl Hongaro, um vizinho que o tratou como filho, quem insistiu para que o jovem cabo-verdiano se testasse no clube. Bastaram 20 minutos de treino para convencer o técnico Patricio Hernández a fichá-lo. Assim, Adriano tornou-se o primeiro jogador africano a atuar profissionalmente na Associação do Futebol Argentino (AFA). O Estudiantes não só o contratou, como também o acolheu na sua pensão durante quatro anos — um gesto que o marcou profundamente.

“Tenho os meus valores, mas o que o Estudiantes me ensinou ficou comigo para sempre”, contou.

Apesar de enfrentar discriminação e solidão, Adriano construiu uma vida na Argentina. Casou, formou uma família e segue a viver em La Plata, onde é lembrado como símbolo de resistência e integração. “A minha vida está aqui, mas se jogarem Argentina e Cabo Verde, torço por Cabo Verde. Porque a pátria é a infância”, disse, citando a atriz uruguaia China Zorrilla, numa frase que resume a sua história.

A classificação inédita de Cabo Verde para o Mundial de 2026 reacendeu nele um sentimento profundo de pertença. “Nunca pensei que viveria para ver Cabo Verde num Mundial”, confessou, emocionado.

Hoje, Adriano celebra ver jovens cabo-verdianos a conquistar espaço em ligas internacionais, impulsionados pelas suas origens. “O país tem meio milhão de habitantes, mas há mais de um milhão de cabo-verdianos espalhados pelo mundo”, lembrou.

Mesmo longe, a sua ligação com o arquipélago permanece viva. “A minha família em Cabo Verde sempre acompanhou a minha carreira. Sabem que joguei no Estudiantes, que foi campeão da América e do mundo”, afirmou, orgulhoso de ter levado o nome do clube — e de Cabo Verde — além fronteiras.