Brava está a definhar não por falta de recursos, mas por falta de gente

Cidade de Nova Sintra, 1 de Setembro de 2025 (Bravanews) - O apelo do ex-presidente da Câmara Municipal da Brava, Francisco Tavares, soa como um murro na consciência da diáspora bravense. Segundo Tavares, pela enésima vez, a ilha é defendida em discursos apaixonados, exaltada em canções, celebrada em encontros e jantares comunitários, mas na hora de assumir o verdadeiro compromisso — viver na Brava, investir na Brava, criar filhos na Brava — reina o silêncio.

Sep 1, 2025 - 20:49
 0  54
Brava está a definhar não por falta de recursos, mas por falta de gente

Tavares disse em voz alta o que muitos pensam em surdina: a Brava está a definhar não por falta de recursos, mas por falta de gente. O Governo Central constrói escolas, mas faltam alunos. Forma professores, mas eles não ficam. Investe proporcionalmente mais do que noutras ilhas, mas o efeito evapora porque metade da população tem sempre um olho no processo de emigração.

Para Tavares é fácil, comodamente instalado em Boston, Pawtucket ou Roterdão, levantar a bandeira da “discriminação” e culpar o Estado pelo abandono. Mas quantos dos que protestam estão dispostos a trocar o salário de 3 mil euros por um de 30 mil escudos na Brava? Quantos dos que dizem amar a ilha na distância aceitariam o “sacrifício” de regressar e colocar as suas competências ao serviço da comunidade?

O ex-autarca lança o desafio: se 4.500 emigrantes regressassem, a Brava teria 10 mil habitantes e tudo mudaria. Mas a verdade é dura: a grande maioria da diáspora prefere a nostalgia ao compromisso, a saudade ao sacrifício, a crítica fácil ao trabalho árduo de reconstruir a ilha.

A Brava não pode ser apenas palco de veraneio, cenário para festas de agosto ou território para discursos saudosistas. Se os seus filhos não regressarem, se não houver coragem para transformar o amor em presença, a ilha continuará a definhar, enquanto a diáspora conforta a consciência com poemas e mornas.

Francisco Tavares chamou-lhe “sonho” — talvez até “pesadelo”. Mas a verdade é que sem esse choque de realidade, a Brava ficará eternamente dependente do exterior, vítima do amor distante de uma diáspora que a idolatra, mas não a habita.