A ilha Brava entre o sonho e a realidade do regresso dos emigrantes
O ex-presidente da Câmara Municipal da Brava, Francisco Tavares, trouxe para o debate público uma questão tão sensível quanto incontornável: a necessidade de mais população residente para sustentar o desenvolvimento da ilha. Num texto carregado de realismo e alguma ironia, Tavares apela ao regresso dos emigrantes bravenses, defendendo que só com gente a viver na ilha será possível justificar investimentos, dinamizar a economia e garantir serviços públicos de qualidade.

O argumento não é novo, mas ganha força quando vem de alguém que conhece, por dentro, os limites e potencialidades da governação local. A Brava, com pouco mais de cinco mil habitantes e uma taxa de emigração histórica que continua a esvaziar a ilha, enfrenta hoje um dilema: exige do Governo Central mais investimentos, mas vê escolas fecharem por falta de alunos e jovens qualificados partirem para nunca mais regressar.
Francisco Tavares toca numa ferida que muitos preferem ignorar. A verdade é que a ilha não tem massa crítica para sustentar um projeto de desenvolvimento consistente. Os recursos chegam — e, proporcionalmente, chegam até em maior volume do que para outras ilhas — mas falta gente para transformar esses investimentos em resultados concretos.
O “sonho” lançado pelo ex-autarca — o regresso de 4.500 emigrantes para elevar a população a 10 mil habitantes — soa a utopia. Não porque seja indesejável, mas porque a realidade pesa mais: dificilmente alguém trocaria salários dignos e condições de vida no estrangeiro pela precariedade de um mercado reduzido e limitado como o da Brava. E é precisamente essa contradição que explica por que razão a ilha continua a perder jovens, apesar dos discursos inflamados de amor à terra.
Há aqui, portanto, uma questão de responsabilidade coletiva. A diáspora ama a Brava à distância, mas raramente está disposta a fazer o sacrifício de regressar e viver na ilha. Por outro lado, os residentes locais continuam a culpar o Governo Central pelo “abandono”, esquecendo-se de que sem população não há desenvolvimento que resista.
O apelo de Francisco Tavares deve, assim, ser lido menos como um convite romântico e mais como um murro na mesa: ou a Brava encontra forma de atrair gente e fixar jovens, ou continuará a ser um território condenado à dependência externa e à retórica do abandono. O sonho do regresso em massa pode não passar disso mesmo — um sonho —, mas a reflexão que suscita é urgente e necessária.
MS