Cabo Verde: 50 Anos de Independência, Brava Sente o Peso do Tempo
Cabo Verde se prepara para celebrar meio século de sua independência, um marco que, para a maioria das ilhas, representa um caminho de progresso, desenvolvimento e a construção de uma nação.

No entanto, enquanto em Santiago, São Vicente ou Sal se vislumbra um futuro promissor, na Ilha Brava, a independência parece mais uma miragem distante, um ideal que, em vez de avanço, trouxe consigo um amargo sabor de retrocesso.
É inegável que a independência, conquistada com tanto sacrifício, transformou Cabo Verde. As cidades cresceram, a infraestrutura melhorou, a educação e a saúde se expandiram, e o arquipélago se projetou no cenário internacional. Há orgulho em ver as estradas asfaltadas, os aeroportos modernos e o turismo florescer, injetando vida e esperança em muitas comunidades. Para a maior parte do país, os 50 anos são um tempo de celebração, de olhar para trás com gratidão e para frente com otimismo. Contudo, a realidade da Ilha Brava destoa drasticamente desse panorama geral. Situada como a "Ilha das Flores" e muitas vezes romantizada por sua beleza natural, a Brava parece ter sido esquecida no mapa do desenvolvimento pós-independência. Enquanto as outras ilhas celebram avanços, a Brava lamenta um evidente retrocesso de décadas. A sensação que se tem é que, em vez de seguir em frente, a ilha estagnou, quando não regrediu em aspetos cruciais da vida dos seus habitantes.
A falta de investimentos em infraestruturas básicas é gritante. Estradas precárias, que dificultam o acesso e o escoamento de produtos, são um retrato da negligência. A conectividade, essencial no século XXI, é um desafio constante, isolando ainda mais a ilha e dificultando o acesso a serviços e oportunidades. Jovens, buscando um futuro que a Brava parece não oferecer, continuam a migrar, esvaziando a ilha de seu capital humano mais valioso e comprometendo seu potencial de recuperação.
A economia local, outrora mais vibrante, definha. A agricultura e a pesca, pilares da subsistência bravense, carecem de apoio e incentivos para modernização e crescimento. O turismo, que poderia ser um motor de desenvolvimento sustentável para a ilha, é subaproveitado devido à falta de infraestruturas adequadas e de uma estratégia de promoção eficaz. A sensação é de um potencial adormecido, ignorado pelas políticas de desenvolvimento que parecem priorizar outras regiões.
Para os bravense, a independência, muitas vezes vista como a libertação do jugo colonial e o início de uma nova era de prosperidade, tornou-se um lembrete constante do que poderia ter sido e não foi. A promessa de um futuro melhor, de mais oportunidades e de uma vida digna, para muitos, nunca se concretizou. Em vez disso, a ilha lida com um sentimento de abandono, de ser uma nota de rodapé na história de sucesso de Cabo Verde. Ao celebrar os 50 anos de independência, é fundamental que o país olhe para a Ilha Brava não apenas como um ponto turístico pitoresco, mas como uma parte integrante da nação que precisa de atenção e investimento urgentes.
A verdadeira independência e o desenvolvimento pleno de Cabo Verde só serão alcançados quando todas as suas ilhas, incluindo a Brava, puderem sentir os seus frutos, e a miragem de um futuro melhor se tornar uma realidade tangível para todos os seus cidadãos. O que você acha que precisa ser feito para reverter essa situação na Ilha Brava?
João Paulo Gomes Rocha da Silva Deputado Municipal Nova Sintra, 26 de junho/2025