Carlos Burgo denuncia crise nos transportes marítimos e prejuízos para a Ilha Brava
Cidade de Nova Sintra, 26 de Maio de 2025 (Bravanews) - Carlos Burgo, figura proeminente da política cabo-verdiana, com um passado como deputado nacional, ex-ministro e ex-governador do Banco de Cabo Verde, natural da ilha Brava, voltou a público para expressar a sua profunda preocupação com a situação crítica dos transportes marítimos no arquipélago, com especial ênfase nos prejuízos reais e crescentes para a ilha Brava.

Em declarações fortes e directas, Burgo apontou o dedo à falta de uma frota adequada como a raiz do problema. "A presente situação no sector dos transportes marítimos, que inexoravelmente tende a agravar-se, resulta do facto deste país arquipelágico de nove ilhas habitadas não dispor de uma frota adequada," afirmou.
O antigo governante criticou duramente o modelo de "concessão" atualmente em vigor, alegando que este não prevê os investimentos necessários à constituição de uma frota robusta, apesar do drástico aumento das tarifas de transporte de cargas. Para Burgo, este é um aspeto essencial e uma "razão de ser de uma concessão".
"Sem os investimentos necessários não é possível a prestação do serviço acordado," sublinhou.
Burgo questionou a lógica do Estado em continuar a assumir o risco do negócio e a adquirir navios, enquanto a "concessão" falha em seu propósito fundamental. "Se é o Estado que vai adquirir navios e continuar a assumir o risco do negócio, então que se ponha fim a essa pouca vergonha que na prática não é e, tecnicamente, não pode ser considerada concessão de serviço e se contrate um gestor de frota," propôs.
Carlos Burgo não poupou críticas à gestão dos horários da CV Inter Ilhas, descrevendo o serviço como "reduzido e deplorável". Ele relatou situações que demonstram a imprevisibilidade e o descaso com os passageiros.
"No 'modelo operacional adaptado' da CV Inter Ilhas — que designação mais pomposa para o reduzido e deplorável serviço que é prestado! — os horários valem o que valem", declarou Burgo. Para ilustrar o caos, o ex-governador do Banco de Cabo Verde partilhou um exemplo concreto: "Ontem à tarde (20 de Maio), isto é, na véspera, os passageiros foram avisados que a ligação Brava-Fogo-Praia de hoje, dia 21, passou para o dia 23. A minha viagem que era para o dia 25, domingo, passou para terça-feira, dia 27."
Esta falta de fiabilidade tem consequências graves, especialmente para a diáspora cabo-verdiana e para o setor do turismo. Burgo deixou um alerta direto: "Os emigrantes com data de regresso que se acautelem!" E sobre o turismo, a situação é desoladora: "Os turistas, estes já não visitam a ilha e os estabelecimentos hoteleiros estão às moscas."
A indignação de Carlos Burgo culminou numa crítica ferrenha à retórica governamental, que ignora a dura realidade vivida pelas ilhas. "Assim estamos nestas que vendedores de banha da cobra e os seus colportores desonestos chamam de 'Cyber Islands'. Que afronta!", concluiu, realçando a urgência de uma mudança para garantir um serviço de transporte marítimo eficiente e justo para todas as ilhas, em particular a Brava.