Direito de resposta de Jose Andrade ao Delegado do MAA na ilha Brava

Prezado Senhor Delegado, Venho, por este meio, manifestar-me com o devido respeito institucional, mas também com um sentimento de frustração crescente, partilhado por muitos agricultores e criadores da Brava — homens e mulheres que, apesar das enormes dificuldades, continuam a trabalhar para garantir o sustento das suas famílias e a resiliência do setor agrícola da nossa ilha.

Jun 6, 2025 - 17:59
Jun 6, 2025 - 18:07
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Direito de resposta de Jose Andrade ao Delegado do MAA na ilha Brava
1. Sobre a publicação nas redes sociais
Fiquei surpreendido ao ver uma publicação oficial da Delegação do MAA que, em vez de promover o diálogo, optou por uma resposta pública com informações que não refletem fielmente a realidade.
O mais preocupante é que essa publicação foi feita sem qualquer tentativa prévia de contacto direto comigo — nem por parte de técnicos, nem de responsáveis da Delegação. Considero esta postura profundamente contraproducente.
Não se trata apenas de uma falha de comunicação — trata-se de uma falta de respeito institucional para com produtores que, de boa-fé, vêm há anos alertando para os desafios do setor.
Esperava-se, no mínimo, um esforço de escuta antes de qualquer julgamento público.
2. Sobre o encontro de agricultores e criadores
No encontro que contou com a presença de diversos agricultores e do Senhor Presidente da Câmara Municipal, fui escolhido como porta-voz por um grupo de colegas, não por vaidade pessoal, mas por confiança construída ao longo de décadas de trabalho no setor.
O que partilhei naquele espaço não foi uma opinião isolada, mas sim o reflexo de uma frustração coletiva. A ausência de técnicos no terreno, o apoio veterinário intermitente, e o abandono de infraestruturas públicas são factos. Ignorar estas preocupações ou tentar desqualificá-las publicamente apenas aprofunda a desconfiança entre os produtores e a Delegação.
3. Sobre os investimentos públicos na zona de Sorno
No que respeita às instalações em Sorno, é essencial repor a verdade: a recuperação daquela zona agrícola foi feita por minha própria iniciativa, sem qualquer apoio financeiro direto do Estado.
O Estado fez perfurações em vários pontos da ilha, e apenas em Sorno houve sucesso — num terreno que, importa sublinhar, é terra pública. Tenho, há mais de dez anos, um contrato válido com o Estado para a sua utilização e valorização.
O que nos deixa perplexos é a total ausência de acompanhamento técnico. Nos últimos dois anos, não houve uma única visita da Delegação a Sorno.
Trata-se de um investimento público abandonado — e a indiferença com que isso tem sido tratado é inaceitável.
4. Sobre a acusação de interesses pessoais
Lamento profundamente que qualquer crítica construtiva seja imediatamente interpretada como interesse pessoal. Tenho 74 anos, e se continuo a intervir é porque acredito que a Brava merece mais. Não busco benefícios próprios.
O que desejo é ver esta ilha com produtores mais valorizados, jovens com mais apoio, e investimentos públicos verdadeiramente funcionais.
Desqualificar a nossa voz com acusações veladas não só é injusto como revela uma falta de abertura ao diálogo.
5. Caminhos para o futuro
Acreditamos — apesar de tudo — que é possível reconstruir a confiança entre os produtores e a Delegação. Mas isso exige mudanças concretas.
Exigimos uma Delegação presente, que escute, que atue no terreno, que dialogue com humildade e compromisso. Não se governa o meio rural da Brava a partir do gabinete, nem pelas redes sociais.
Reitero a minha total disponibilidade para colaborar de forma séria e construtiva com a Delegação e todas as instituições que tenham como missão melhorar a vida no meio rural da nossa ilha.
Mas essa colaboração exige respeito mútuo, escuta ativa e sobretudo ação concreta.
Com estima, mas também com a firmeza que o momento exige,
José Andrade
Produtor Agrícola
Brava, Cabo Verde