Divididos pela mesma causa - A fragmentação dos grupos de apoio à Brava nos Estados Unidos da América
Cidade de Pawtucket, 1 de Agosto de 2025 (Bravanews) - Em tempos de crise, dificuldades e desafios colectivos, a união é um recurso tão valioso quanto o próprio apoio material. No entanto, entre os emigrantes bravenses residentes nos Estados Unidos da América — uma das comunidades da diáspora cabo-verdiana mais activas — um fenômeno vem chamando atenção: a proliferação de grupos comunitários com o objectivo comum de ajudar a ilha Brava, mas que, paradoxalmente, permanecem desunidos.

Actualmente, contam-se mais de três dezenas de associações, padrinhos, comissões e iniciativas organizadas por bravenses na América, todas com objetivos semelhantes: apoiar o desenvolvimento da ilha, dar resposta a emergências, contribuir para projectos sociais, educacionais e de saúde, entre outros. Embora louvável em essência, essa multiplicação de estruturas com as mesmas metas tem gerado o efeito contrário ao pretendido: a dispersão de esforços, desperdício de recursos, duplicação de actividades e, o mais grave, uma sensação de frustração entre os próprios membros da diáspora e os beneficiários na Brava.
A comunidade bravense nos EUA tem sido, ao longo das décadas, uma das mais engajadas na manutenção de laços com a terra natal. Seja através de remessas familiares, campanhas de angariação de fundos ou envio de encomendas com bens, essa ligação afectiva e solidária nunca se perdeu. No entanto, a proliferação de grupos tem revelado uma fragilidade estrutural: a dificuldade em trabalhar colectivamente.
Na prática, muitos desses grupos operam de forma quase isolada, desconhecendo ou ignorando os esforços paralelos de outras associações. Iniciativas são lançadas sem coordenação, eventos são realizados na mesma data, e os recursos — tanto humanos quanto financeiros — acabam divididos entre diversas frentes. Como consequência, projetos importantes perdem força, campanhas não atingem as metas esperadas e, em última instância, a ilha Brava não recebe o apoio com o impacto que poderia ter.
Como exemplo, sou chamado a apoiar, a reconstrução da igreja católica de Nossa Senhora do Monte, a participar nos 25 anos da organização escola materna de Nossa Senhora do Monte, a mandar recursos para Santana de Mato, a apoiar projecto ligado a escola do Lem e Nova Sintra, a participar no grupo Brava Unido e a dar minha participação na recuperação do mercado Municipal de Nova Sintra.
São múltiplos os factores que ajudam a explicar essa falta de união. Entre os mais citados por membros da própria comunidade estão, diferenças políticas e pessoais, busca por protagonismo (o desejo de reconhecimento, prestígio ou visibilidade pessoal leva algumas pessoas a criarem grupos próprios em vez de juntarem-se a iniciativas já existentes), falta de mecanismos de coordenação (a inexistência de uma estrutura “guarda-chuva” que sirva de ponto de encontro e concertação entre os vários grupos contribui para a dispersão) e a desconfiança mútua (casos de má gestão no passado criaram um ambiente de desconfiança, levando membros da comunidade a preferirem iniciativas independentes).
Essa fragmentação tem consequências sérias. Primeiro, cria confusão dentro e fora da comunidade. Doadores e parceiros muitas vezes não sabem qual grupo apoiar, qual campanha é mais legítima ou eficaz. Segundo, desmotiva os voluntários. Muitos se sentem desanimados ao verem seus esforços duplicados ou sabotados por iniciativas concorrentes. Por fim, mina a credibilidade da comunidade perante entidades oficiais, como o Governo cabo-verdiano, a Câmara Municipal da Brava, autoridades locais e organizações internacionais.
Além disso, Brava — uma ilha pequena, com população em declínio e sérios desafios socioeconômicos — necessita mais do que nunca de uma ajuda estruturada, coordenada e estratégica. Com tantos recursos dispersos, corre-se o risco de perder oportunidades de impacto verdadeiro.
É importante dizer que essa realidade não é irreversível. Existem caminhos possíveis para transformar essa diversidade de grupos em força colectiva.
Alguns passos concretos poderiam ser:
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Criação de uma plataforma unificadora: Um conselho ou federação de associações bravenses nos EUA, com representantes de cada grupo, que possa discutir e planear acções conjuntas.
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Partilha de informação: Realização de reuniões regulares (presenciais ou online), partilha de planos e orçamentos, transparência nos objetivos e resultados.
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Campanhas comuns: Ao invés de três dezenas de campanhas para resolver o mesmo problema, canalizar esforços em campanhas conjuntas, com divisão clara de tarefas e responsabilidades.
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Mediação externa: A presença de uma entidade neutra, como o consulado, igrejas ou instituições independentes, pode ajudar a mediar conflitos e promover a confiança.
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Formação de lideranças comunitárias: Investir na capacitação dos dirigentes associativos, com foco em gestão de projetos, trabalho em equipa e resolução de conflitos.
Unidos Pela Brava, de verdade
A boa vontade dos bravenses na diáspora não está em causa. O amor pela ilha é visível, sentido, e traduzido em acções concretas. Mas boa vontade, isoladamente, não basta. É necessário organização, visão comum e sobretudo, a capacidade de colocar o interesse coletivo acima das vaidades pessoais e disputas antigas.
A história mostra que os maiores avanços nas comunidades emigrantes vieram quando houve união de esforços. Brava, com sua beleza, história e resiliência, merece mais do que ajuda fragmentada. Merece uma diáspora coesa, madura e comprometida com um futuro coletivo.
Como diz o velho provérbio africano: "Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá acompanhado." Chegou a hora dos bravenses na América irem longe — juntos.
Moises Santiago
01 de Agosto de 2025