Fanatismo político e cegueira militante, o silêncio que condena a ilha Brava

Cidade de Pawtucket, 13 de Novembro de 2025 (Bravanews) - Há fenómenos sociais que, pela sua persistência e impacto, dizem mais sobre o estado de uma comunidade do que mil discursos políticos. O isolamento da ilha Brava é um desses casos paradigmáticos. Há mais de cinquenta anos, os bravenses convivem com o drama da falta de transporte marítimo digno, regular e seguro — um problema antigo, profundo e que, apesar das promessas e discursos, continua sem solução à vista.

Nov 13, 2025 - 17:34
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Fanatismo político e cegueira militante, o silêncio que condena a ilha Brava

(...) O problema do transporte não é apenas logístico. É social, econômico e humano. Famílias enfrentam dificuldades graves para aceder a cuidados médicos, muitas vezes dependendo de embarcações improvisadas para emergências. Estudantes são forçados a adiar ou abandonar os estudos fora da ilha devido à falta de ligações seguras e regulares. Comerciantes e pequenos empresários sofrem com a escassez de produtos essenciais, e o turismo, que poderia ser uma alavanca económica, continua limitado pelo isolamento persistente.

Os emigrantes, que retornam para visitar familiares, veem os seus planos arruinados por atrasos ou cancelamentos de barcos. Cada interrupção no transporte marítimo representa mais do que uma inconveniência: é um impacto direto na vida e na dignidade das pessoas, e uma barreira ao desenvolvimento da ilha.

Mas o que mais preocupa não é apenas a dimensão do problema, mas a resposta da sociedade e da política local. Em vez de uma voz unida, ouve-se um coro dividido por fanatismos partidários e cegueira militante. Muitos cidadãos, por lealdade cega ao seu partido, procuram justificar o injustificável. Transformam o sofrimento coletivo numa arena de defesa política, onde a verdade se perde em slogans, justificações e ataques partidários.

Essa cegueira tem efeitos devastadores. Ao minimizar problemas estruturais ou atribuí-los apenas ao passado, governos e políticos evitam assumir responsabilidades. Cada administração, em vez de resolver, transfere o problema para o próximo mandato. O resultado é que a Brava continua isolada, esquecida e prejudicada, e o sofrimento dos bravenses transforma-se em rotina.

Mais grave ainda é a falta de unidade entre os próprios bravenses residentes e os diasporizados. Enquanto a política partidária divide, o povo permanece silencioso ou disperso. Se todos se erguessem em uníssono, sem bandeiras, sem cores, sem medo, e exigissem soluções concretas, a realidade poderia ser diferente. Mas enquanto a divisão e a passividade persistirem, o problema continuará a ser tratado como menor, e a ilha continuará à margem das decisões que impactam a sua sobrevivência e desenvolvimento.

A história da Brava está cheia de exemplos desse ciclo: promessas de navios novos, planos de subsidiação de transporte, reformas no porto, todas elas anunciadas com grande alarde e nunca cumpridas de forma a resolver o problema em definitivo. Enquanto isso, o sofrimento da população persiste. Cada bravense conhece alguém que já ficou dias preso na ilha por falta de ligação, ou que não conseguiu receber tratamento médico em tempo útil.

O isolamento também tem um efeito profundo na economia local. Comerciantes enfrentam aumentos de custos devido ao transporte irregular de produtos, enquanto agricultores e pescadores veem a sua produção limitada pela dificuldade de escoamento. O turismo, que poderia ser uma fonte de receitas e de criação de empregos, é prejudicado pela falta de fiabilidade nos transportes. No fundo, cada falha no transporte marítimo representa não apenas um obstáculo individual, mas uma barreira ao desenvolvimento económico da ilha.

Resolver o problema do transporte marítimo não é apenas uma questão técnica, mas política e social. Exige planeamento estratégico, compromisso de todos os níveis de governo e participação activa da população. Algumas medidas concretas poderiam incluir a criação de uma frota própria para Brava, com embarcações adaptadas à segurança e às condições marítimas locais, subsidiação temporária do transporte, garantindo ligações regulares enquanto soluções permanentes são implementadas, fortalecimento da voz da comunidade, com associações e fóruns que unam todos os bravenses em torno da exigência de soluções concretas e monitoramento e transparência, para que cada promessa política seja acompanhada de prazos e metas verificáveis.

O futuro da Brava depende, antes de tudo, da consciência coletiva de cada bravense. Depende da coragem de dizer basta, da capacidade de exigir respeito e da determinação de lutar por soluções concretas. É hora de romper com o silêncio cúmplice e com os fanatismos partidários, e passar a ser militante da própria causa da Brava.

A ilha não precisa de mais promessas vazias, de discursos inflamados ou de justificações. Precisa de ação, união e compromisso real. Cada bravense tem o dever de erguer a sua voz, não apenas para reclamar, mas para exigir resultados, garantindo que as próximas gerações não herdem o mesmo isolamento e abandono.

A história da Brava está cheia de desafios, mas também de resistência e coragem. Se os bravenses conseguirem transformar a indignação em ação coletiva, poderão finalmente quebrar o ciclo de descaso que se prolonga há mais de cinquenta anos. O silêncio e a cegueira política têm sido os maiores inimigos da ilha — mas a unidade, a coragem e a determinação do povo bravense têm o poder de mudar tudo.

Brava merece respeito, dignidade e futuro. E esse futuro começa quando cada cidadão deixa de ser apenas militante de partido e se torna militante da própria ilha.

 

Redaccao