Hoje, 21 de Dezembro, não apenas o PAICV, mas todo o Cabo Verde, confronta-se com o verdadeiro Francisco Carvalho. Mais uma vez, o foco não recai sobre a sua intelectualidade, mas sim sobre as suas birras, guerras, conflitos e confrontos com instituições. A questão que se impõe aos militantes que o elegeram é incontornável: que razões, para além de "estar na moda", os moveram a considerá-lo o candidato mais preparado? É uma dúvida que, por mais que se procure uma resposta, permanece no vazio.
O Contraste de Perfis: Nuias Silva e a Postura de Estado
Em nítido contraste, a trajetória política de Nuias Silva revela uma qualidade intelectual e argumentativa fora do comum. A sua passagem pela Assembleia Nacional, enquanto deputado, é marcada por contribuições de elevada qualidade e substância. A sua sólida formação académica em engenharia confere-lhe uma capacidade inata para a criatividade e a busca de soluções inteligíveis. Mais do que isso, a sua atuação como Presidente da Câmara Municipal de São Filipe foi ovacionada e aplaudida pela oposição, um feito raro e revelador no panorama político cabo-verdiano e mundial.
Recentemente, Nuias Silva reapareceu ao lado do Primeiro-Ministro Ulisses Correia e Silva, em missão de trabalho, exibindo a postura de um político raro em Cabo Verde: elegante no seu falar e educado na receção. Este é o político que Cabo Verde merece, alguém que demonstra a capacidade de colocar o interesse partidário em segundo plano quando o objetivo maior é beneficiar a sua cidade, a sua ilha e os seus munícipes.
O Erro Político e a Crise Institucional
A situação atual coloca os militantes do PAICV perante uma crise sem precedentes, em grande parte fomentada pela atitude da anterior Presidente do Partido, Janira H. Almada. O seu ego e orgulho falaram mais alto, forçando a candidatura de Francisco Carvalho, um político que, como se tem provado, carece de preparo psicológico, experiência política e capacidade de gestão. A tentativa de triunfar com um "cavalo mal preparado" e de colher o êxito à custa da instabilidade revelou-se o maior erro político jamais cometido nesta terra.
A cada dia que passa, torna-se evidente, como o nascer do sol, que o maior erro dos militantes foi a escolha de Francisco Carvalho, um líder que está a custar caro ao PAICV.
A Justiça e o Fundo do Poço
Pela primeira vez na história de Cabo Verde, um presidente do PAICV é constituído arguido. Este facto, que danifica a imagem institucional do partido interna e externamente, está diretamente ligado aos acontecimentos noticiados pelo jornal A Nação.
Conforme o despacho da Procuradoria-Geral da República (PGR), Francisco Carvalho, juntamente com a Secretária Municipal e outros dois indivíduos, seria constituído arguido no dia 22 de Dezembro, na sequência de buscas realizadas no dia 12. Em causa, estão suspeitas da prática de falsificação de documentos, participação ilícita em negócio, defraudação de interesses públicos patrimoniais e corrupção ativa e passiva.
O que é mais preocupante é a reação de muitos militantes que, perante a gravidade da situação e a atuação da justiça, continuam a dar força ao líder. É inaceitável ver onde a razão política foi parar, num abismo de irracionalidade. A resistência às buscas, com o arrombamento do portão lateral dos Paços do Concelho ordenado pelo Ministério Público após a recusa do Presidente substituto em ceder as chaves, é um sintoma da atitude autoritária e ditatorial que o texto de opinião já apontava.
Este é o fundo do poço literal da política cabo-verdiana: ver indivíduos, que se consideram inteligentes, a apoiar e aplaudir constantemente os casos problemáticos de Francisco Carvalho.
Nuias Silva, por sua vez, mantém-se em silêncio e fora dos problemas. Não por omissão, mas por tática política, honrando a verdade e a decência. A sua postura demonstra que, por vezes, o silêncio é a mais eloquente das críticas e a mais eficaz das estratégias. O seu regresso à ribalta, com a sua postura de estadista, serve como um farol de esperança e um lembrete do tipo de liderança que Cabo Verde realmente merece.