Viagens pela minha terra - Furna - Por Benvindo Neves

Costuma-se dizer, meio a sério meio a brincar, que Furna não faz parte da Ilha Brava. É um lugar a parte na fresquinha e colorida ilha das flores. Esta divisão entre Furna e a restante Brava prende-se, essencialmente, com o clima. Enquanto quase todo o resto da Brava é dominado por um microclima, Furna é quente, muito quente.

Dec 10, 2025 - 06:48
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Viagens pela minha terra - Furna - Por Benvindo Neves
Temperaturas a parte, Furna é a porta da Brava… a única! É a porta para se chegar a Ilha; é a janela aberta da Brava para o mundo. Furna parece de facto com uma furna, talvez o nome advenha mesmo do aspecto orográfico do sítio: uma pequena baía, recortada entre rochas selvagens. Num extremo o pequeno cais e, do outro extremo, o casario que dá forma à comunidade. Uma comunidade que vive do mar.
Sabe bem deambular pela avenida que liga as duas pontas da Furna, desde o porto até ao aglomerado de casas. É tudo muito juntinho ao mar. A cada passo, ouve-se o som bem próximo das ondas a desfazerem-se nos calhaus.
À medida que se avança pela ourela do mar, vêm-nos à mente aquela música do Armando de Pina, por sinal bravense de gema e que, tal como a grande maioria dos filhos da ilha, emigrou um dia para América do Norte e por lá ficou! Mas, um cidadão ilhéu sempre procura o cheiro do mar, precisa da maresia e, tomado de saudade, um dia Armando de Pina procurou as costas da gigante América para matar saudades da Brava. E foi na gigante Praia de Nantucket, que se lembrou da sua pequenina Praia de Furna. E cantou:
“um tardinha / na cambar di sol / min ta anda na praia de Nantucket / lembra’n praia di Furna / sodadi fronta’n n tchora”
Sem dimensão, sem areia, quase sem banhistas, mas gigante o suficiente para matar de saudade o filho ausente.
E eu, a passar pela Furna, lembrei-me da música e do sofrimento que terá dado cabo do nostálgico Armando de Pina.
É na Furna que se deixam os últimos abraços antes de deixar a pequenina Ilha das Flores rumo às sete partidas. Mas é também na Furna que se dá os primeiros abraços a quem chega à Ilha.
Furna pode ser quente, diferente das outras zonas da fresquinha Ilha Brava, mas não há zona onde se possa sentir de forma tão fiel o pulsar da ilha. Mesmo nos períodos de total madorna.