Viagens pela minha terra - Cova Joana - Por Benvindo Neves

Foi a caminho de Nossa Senhora do Monte que, certo dia, descobri Cova Joana, esse sítio tão pacato quanto encantador e que, num passado recente, há cerca de 2 anos e meio, esteve na boca - e também nas preces - de todo Cabo Verde!

Dec 9, 2025 - 06:41
 0  92
Viagens pela minha terra - Cova Joana - Por Benvindo Neves
Quando se sai da cidade de Nova Sintra e se mete na estradinha pitoresca de montanha rumo à freguesia de Nossa Senhora do Monte, sempre a subir, tudo que o vai surgindo pela frente encanta o visitante.
Até chegar à Nossa Senhora do Monte, o viajante passa por duas covas, a primeira é Rodela - Cova Rodela - zona linda, fresquinha, de gente bonita. Mas, não vamos parar. Prosseguimos nossa aventura estrada acima, sempre a subir sobre o piso empedrado, e as vezes desconfortável, da rodovia que vai serpenteando pelas castanhas e selvagens montanhas da ilha Brava.
Alguns quilómetros mais a frente, no fio de uma encosta, faz-se uma curva para a esquerda e entra-se na Cova Joana. Que lugar lindo! Na borda da cova, lá em cima, já é bem visível o altivo casario de Nossa Senhora do Monte.
Quando cheguei à Cova Joana quis logo saber onde era a antiga residência de Nhô Raul de Pina, o famoso violinista da Brava, que também cantava! Morreu prestes a fazer 103 anos, tendo deixado quase 40 filhos!
Pergunto onde era a casa de Nhô Raul? Mostraram-me então um interessante sobrado, bem no centro da Cova, de aspecto já muito degradado, aparentemente abandonado.
Nhô Raul de Pina, um dos muitos filhos ilustres que a Brava gerou, faleceu em 2005, deixando triste a Cova Joana, a ilha Brava e o país inteiro.
Recentemente, em Agosto de 2016, certamente que a alma de Nhô Raul de Pina andou desassossegada por causa da ameaça de uma erupção vulcânica na sua pacata zona. Mas tudo serenou, felizmente! E Cova Joana vai continuar a conservar a sua beleza, as suas casas lindas, bem arranjadas com seus amplos pátios preenchidos por densos jardins floridos. Nos intervalos entre uma e outra residência, propriedades com árvores e arbustos sempre viçosos escondem na soleira de cada porta um olhar discreto e um sorriso tímido nos rostos das suas gentes.
Sempre que vou à Brava, passo por Cova Joana para contemplar a paisagem, desfrutar da tranquilidade da zona e recordar Nhô Raul de Pina, o filho maior da Cova Joana, que agora, lá onde quer que esteja, deve estar mais sossegado, porque afinal a Cova Joana continua como sempre foi: pacata, sossegadinha e… permanentemente embrulhada numa fofinha neblina.
Benvindo Neves