Querida Mãe Néné
Nesta época do ano, é impossível que o meu coração não viaje no tempo. Tenho pensado muito em nós, na nossa casa antiga e, principalmente, na magia que tu criavas com as tuas próprias mãos. Hoje, ao escrever-te, sinto uma saudade imensa daqueles Natais da minha infância.
Fecho os olhos e quase consigo sentir aquele cheiro inconfundível de bolo no forno a espalhar-se pela casa toda. Lembro-me da mesa posta, daquela galinha corada com batata frita que parecia o melhor manjar do mundo, e da famosa Laranjada Céris. É engraçado pensar nisso hoje... algo que agora é tão banal, fácil de encontrar em qualquer lado, mas que naquela altura, para nós, era o verdadeiro luxo, o sabor da festa.
Mas o que me emociona mesmo, Mãe, é lembrar o teu esforço e amor em cada detalhe. Lembro-me de te ver a trabalhar, desmanchando as roupas do pai para costurar roupas iguais para mim e para o meu irmão. Tu fazias milagres com tecido e linha, só para nos veres bonitos. E como nos sentíamos importantes quando nos compravas sapatos novos! Eram estreados com orgulho na caminhada para a igreja à noite, para a igreja do pastor Sança, onde íamos, nervosos e felizes, declamar as récitas de Natal.
Recordo com tanto carinho o ritual de ir buscar àquela gaveta as mesmas luzes de Natal que, ano após ano, desenrolávamos com paciência. Colocávamo-las na nossa árvore de pinheiro, aquela que exalava o verdadeiro cheiro de Natal, um cheiro de natureza que hoje raramente se encontra.
E a ansiedade? A pressa em chegar a casa para a tão aguardada ceia que tinhas passado o dia a preparar com todo o amor. A nossa ingenuidade doce de crianças, a escrever a carta ao Pai Natal e a entregar-te para "pores nos correios". Lembro-me da pressa em ir dormir, forçando o sono a chegar, só para que a manhã viesse depressa e pudéssemos correr para ver os presentes nos sapatos.
Mãe, éramos tão felizes e nem sequer sabíamos.
Hoje crescemos. A vida, como sempre faz, empurrou cada um para o seu lado. O brilho do Natal já não é o mesmo daquela época; as luzes parecem diferentes e o tempo passa mais rápido. Mas estas lembranças são o meu tesouro. Elas mantêm-me grato por tudo o que fizeste, por cada sacrifício, por cada sorriso e por teres tornado a nossa infância num lugar seguro e mágico.
Obrigado por tudo, minha Mãe. O Natal vive sempre em mim porque tu o plantaste no meu coração.
Com todo o meu amor,
Colin Miranda
















