Cabo Verde e o risco do populismo autoritário em um contexto de desafios nacionais e transnacionais

O populismo autoritário tem se tornado uma preocupação global, e Cabo Verde, apesar de sua tradição democrática, não está imune a essa ameaça. A entrada de líderes que prometem soluções fáceis para problemas complexos, ao mesmo tempo em que desacreditam as instituições e exploram a insatisfação popular, representa um risco real para a estabilidade e o desenvolvimento do país.

Aug 17, 2025 - 06:16
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Cabo Verde e o risco do populismo autoritário em um contexto de desafios nacionais e transnacionais

A ascensão desse tipo de populismo é frequentemente alimentada por uma série de fatores, muitos dos quais já são visíveis no cenário cabo-verdiano. A sensação de que os problemas nacionais persistem sem solução – como a precariedade dos transportes interilhas, os desafios na educação e as deficiências na saúde – pode gerar um terreno fértil para a descredibilização da política tradicional. Quando os cidadãos se sentem desamparados pela classe política, a porta se abre para figuras que se apresentam como "salvadoras da pátria", prometendo resolver tudo com um estalar de dedos.

Um dos pilares do populismo autoritário é a simplificação de problemas complexos. Em vez de apresentar propostas realistas e de longo prazo, os populistas oferecem respostas emocionais e superficiais. Por exemplo, em vez de discutir a complexidade de um sistema de transporte marítimo e aéreo eficiente e sustentável, um populista pode simplesmente culpar a "falta de vontade política" e prometer "mais aviões e barcos" a preços muito baixos, sem um plano concreto. Essa estratégia de minimização dos grandes problemas gera um ciclo perigoso: as promessas não são cumpridas, mas o populista encontra bodes expiatórios para culpar, como a "elite corrupta" ou a "mídia mentirosa".

A questão da corrupção e da falta de transparência também desempenha um papel crucial. A percepção de que há desvios de recursos públicos e que o poder é exercido de forma opaca pode minar a confiança nas instituições democráticas. O populista autoritário explora essa desconfiança, apresentando-se como o único capaz de "limpar o sistema". No entanto, uma vez no poder, essa mesma figura frequentemente se utiliza dos mecanismos do Estado para silenciar críticos, concentrar poder e, paradoxalmente, aprofundar a corrupção de forma mais sistêmica.

A história recente de outros países serve como um alerta. Nos Estados Unidos, a ascensão de Donald Trump foi impulsionada pela frustração de uma parcela da população com a política tradicional, pela insatisfação com a economia e pela exploração de tensões sociais. Trump prometeu "tornar a América grande novamente" e apresentou-se como um "outsider" que iria consertar os problemas do país. Ele atacou a mídia, as instituições e a própria legitimidade do processo eleitoral.

No Brasil, o Governo de Jair Bolsonaro também se baseou em uma retórica anti política e anticorrupção. Bolsonaro capitalizou a insatisfação popular com a crise econômica e os escândalos de corrupção, prometendo uma ruptura com o sistema político. Assim como Trump, ele frequentemente questionou as instituições democráticas, atacou a imprensa e se apoiou em uma base de eleitores fiéis para manter o poder. Em ambos os casos, a retórica populista, aliada à desconfiança nas instituições, criou um ambiente de polarização e fragilizou a democracia.

Para Cabo Verde, o caminho para evitar a entrada do populismo autoritário passa pelo fortalecimento da sua democracia. É fundamental que os líderes políticos tradicionais enfrentem os desafios nacionais de forma séria e transparente. Isso significa apresentar soluções realistas para os problemas de transporte, saúde e educação, e trabalhar activamente para combater a corrupção e aumentar a transparência. A sociedade civil, por sua vez, deve permanecer vigilante, exigindo responsabilidade dos governantes e promovendo o debate construtivo.

A luta contra o populismo autoritário não se vence com populismo do lado oposto. Vence-se com o fortalecimento das instituições, com o respeito à lei, com a valorização da imprensa livre e, acima de tudo, com uma cidadania informada e engajada, capaz de distinguir promessas vazias de soluções genuínas. A história de outros países mostra que a facilidade prometida pelos populistas é um caminho perigoso que, no fim, custa caro para a democracia e para o povo.