Estado avaliza empréstimo de 518 mil contos à firma lusa Interilhas: Operadores consideram ser «uma vergonha nacional» esta medida do governo

Está a provocar descontentamento generalizado entre operadores marítimos cabo-verdianos o fato de o Estado ter avalizado um empréstimo no valor de 518 mil contos feito pela recém-criada Cabo Verde Interilhas (CVII), cujo capital social é detido em 51% pela firma portuguesa Transinsular. «Que vergonha nacional! Chamemos isto de concurso internacional para a exploração das linhas de transportes marítimos inter-ilhas?», questionam privados nacionais que procuraram o ASemanaonline para exprimirem o seu descontentamento no tocante à esta medida do governo de Ulisses Correia e Silva, alertando que «esta engenharia financeira faz com que qualquer outro negócio duvidoso já realizado em Cabo Verde apareça pequeno em comparação com a mesma operação».

Sep 15, 2019 - 10:00
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Estado avaliza empréstimo de 518 mil contos à firma lusa Interilhas: Operadores consideram ser «uma vergonha nacional» esta medida do governo

Está a provocar descontentamento generalizado entre operadores marítimos cabo-verdianos o fato de o Estado ter avalizado um empréstimo no valor de 518 mil contos feito pela recém-criada Cabo Verde Interilhas (CVII), cujo capital social é detido em 51% pela firma portuguesa Transinsular. «Que vergonha nacional! Chamemos isto de concurso internacional para a exploração das linhas de transportes marítimos inter-ilhas?», questionam privados nacionais que procuraram o ASemanaonline para exprimirem o seu descontentamento no tocante à esta medida do governo de Ulisses Correia e Silva, alertando que «esta engenharia financeira faz com que qualquer outro negócio duvidoso já realizado em Cabo Verde apareça pequeno em comparação com a mesma operação».

A decisão em causa foi publicada, esta sexta-feira,13, no Boletim Oficial. Mas a mesma caiu que nem uma bomba junto de operadores nacionais do sector de transportes, que estão a reagir contra à esta medida governamental - o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças (Olavo Correia) e o ministro do Turismo e Transportes e da Economia Marítima (José Gonçalves) são tidos como os maus da fita.

«Não há palavras para descrever esta operação financeira. Os portugueses ganham um suposto Concurso Internacional para explorarem por 20 anos as linhas marítimas inter-lhas através da Transinsular, chegam ao país sem nada e são oferecidos três barcos da Cabo Verde Fast Ferry tomados a força aos cabo-verdianos e mais uma prenda (aval do Estado) para um empréstimo de 518 mil contos para lançar operações comerciais. Isto é sério ?», questiona com indignação um operador privado nacional que procurou este diário digital para manifestar o seu descontentamento à medida governamental.

Indo mais longe, a mesma fonte qualifica esta operação como sendo uma vergonha nacional. «Que vergonha nacional! Chamemos isto de concurso internacional para a exploração das linhas de transportes marítimos inter-ilhas?», questiona o interlocutor do ASemanaonline, alertando que «esta engenharia financeira faz com que qualquer outro negócio duvidoso já realizado em Cabo Verde apareça pequeno em comparação com a mesma operação».

Corroboram a mesma opinião outros operadores ouvidos por este jornal. Estes interpelam por qual motivo o Governo avaliza empréstimo de uma firma estrangeira, mas não toma a mesma decisão em relação a empresários nacionais, que enfrentem dificuldades em conseguir crédito junto de bancos comerciais para realizarem novos investimentos.« Trata-se de uma medida que, de certa forma, discrimina empresários nacionais», alertam.

Entretanto, o Goveno de Ulisses Correia e Silva tem uma leitura diferente sobre as criticas referidas. Considera que o empréstimo de 518 mil contos, segundo a Resolução nº114/2019 de 13 de Setembro, publicada, nesta sexta-feira,13, no Boletim Oficial, tem por objectivo ajudar a empresa CVII na "implementação da estratégia estabelecida no plano de negócios".

Conforme a mesma fonte, o financiamento será feito pelos bancos Caixa Económica de Cabo Verde – CECV e o International Investment Bank – IIB.

"O Estado de Cabo Verde reconhece o manifesto interesse nacional do projecto, devido aos importantes benefícios económicos e sociais que o mesmo proporcionará, e considera que estão reunidas todas as condições exigíveis para a concessão de um aval, pelo que se submete à apreciação e aprovação do Conselho de Ministros a presente proposta de Resolução", fundamenta o governo, no diploma referido publicado.

CVII e bronca na rota São Vicente/Santo Antão

É de salientar que a CV Interilhas é um consórcio de empresas que tem a seu cargo a concessão do serviço público de transporte marítimo interilhas e é constituída pela empresa portuguesa Transinsular, que detém 51% do capital, e um conjunto de armadores nacionais donos do restante capital – este ficou de ser subscrito pelo Estado, devendo depois a empresas privadas reembolsar o valor em causa.

O arranque das operações da CVII ficou marcado com o caos registado no dia 15 de Agosto na rota S.Vicente/Santo Antão – retirou-se o navio Liberdadi da mesma linha, tendo ficado ali apenas um barco da CVII, o que tem sido insuficiente para dar vazão à procura dos utentes nessas duas ilhas do norte do país. Como consequência, houve vários protestos de operadores económicos da região a pediram a colocação de mais um barco na linha e o melhor funcionamento da CVII na venda de bilhetes e no escoamento das cargas. A CVII já está a realizar três ligações diárias na mesma rota, mas está longe de satisfazer as necessidades de Santo Antão e São Vicente.

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