Ex-Ministro das Finanças, Carlos Burgo, aponta dedo ao "Cinismo e Hipocrisia" da Elite Política cabo-Verdiana em resposta ao discurso de José Maria Neves (PR)

Cidade de Nova Sintra, 3 de Junho de 2025 (Bravanews) – Em um tom incisivo e sem rodeios, Carlos Burgo, antigo Ministro das Finanças no governo de José Maria Neves, teceu duras críticas à elite política cabo-verdiana, classificando-a de "cínica e hipócrita". As declarações de Burgo surgem como uma resposta direta a um discurso recente do actual Presidente da República, José Maria Neves, que se mostrou preocupado com a saída massiva dos jovens para a emigração.

Jun 3, 2025 - 15:34
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Ex-Ministro das Finanças, Carlos Burgo, aponta dedo ao "Cinismo e Hipocrisia" da Elite Política cabo-Verdiana em resposta ao discurso de José Maria Neves (PR)

A reação de Carlos Burgo foi desencadeada por aquilo que ele descreve como as "preocupações" expressas pelo Presidente Neves, nomeadamente em relação às restrições à mobilidade. Burgo questiona a sinceridade dessas preocupações, apontando para um histórico que, em sua visão, torna a postura da elite política, incluindo o próprio Neves, contraditória e até mesmo irresponsável.

"Um Presidente 'preocupado'", ironiza Burgo, "Façam uma pesquisa no Google e constatarão que são muitas as 'preocupações' de S. Excia. o Presidente da República. Entre as suas preocupações estão as restrições à mobilidade. Até onde vai o cinismo e a hipocrisia desta elite política cabo-verdiana!!!"

A força das palavras de Burgo reside na sua sugestão de que a atual elite política, ao invés de expressar preocupação, deveria antes "penitenciar-se". Ele argumenta que as causas de muitas das preocupações hoje levantadas não são alheias a quem esteve à frente do governo por um período considerável, como é o caso de José Maria Neves, que dirigiu o executivo durante 15 anos. Para Burgo, quem esteve no poder por tanto tempo deveria ter-se "ocupado" com estas questões, e não simplesmente lamentá-las agora.

O ex-ministro não se limita a apontar o dedo a um passado específico, mas alarga a sua crítica aos resultados globais da governação no país. Segundo ele, esses resultados "estão muito aquém das expectativas que os políticos alimentam, para se reproduzirem no poder". Esta falha em corresponder às expectativas geradas pelos próprios políticos é, na sua ótica, um fator determinante para um dos maiores desafios de Cabo Verde: a emigração, especialmente entre a geração mais jovem.

Burgo recorda que a emigração sempre foi um mecanismo de equilíbrio entre a população e os recursos em Cabo Verde, mas insinua que a dimensão atual do fenómeno é um reflexo direto da falta de resultados da governação. Ao vincular a "preocupação" com a mobilidade às políticas e ações de quem esteve no poder, Carlos Burgo desafia a elite política a assumir a sua responsabilidade e a refletir sobre as verdadeiras causas dos problemas que afetam o país.

As declarações de Carlos Burgo acendem um debate acalorado no cenário político cabo-verdiano, forçando uma reflexão sobre a prestação de contas, a coerência dos discursos e o impacto das decisões políticas na vida dos cidadãos. A crítica direta e assertiva de um ex-membro do governo de Neves certamente ecoará e levantará questões importantes sobre a transparência e a responsabilidade da liderança em Cabo Verde.