No século XXI, num país que se orgulha do seu progresso, estabilidade e resiliência, é inconcebível que uma pessoa ainda possa ser deixada a sofrer de forma tão desumana, simplesmente porque o sistema falhou. Ninguém, independentemente da sua condição ou origem, deveria ter de suportar dor, abandono ou desespero por falta de cuidados médicos adequados.
Procurarei manter as palavras de culpa ao mínimo — não porque não haja responsáveis, mas porque este momento exige compaixão, urgência e ação, e não um debate interminável. Ainda assim, não podemos fingir que nada está a acontecer. Temos de reconhecer que o que se passa não é um caso isolado, mas sim o reflexo de um problema muito mais profundo — um sistema quebrado que, há demasiado tempo, tem ignorado aqueles que não têm voz, poder ou acesso aos cuidados de que necessitam.
Cabo Verde é um país que amamos profundamente. É a terra que guarda a nossa história, as nossas famílias, a nossa identidade e as nossas esperanças num futuro melhor. Mas o amor por uma nação também deve vir acompanhado da coragem de exigir mais dela. É precisamente porque amamos este país que não podemos permanecer em silêncio enquanto os nossos concidadãos — os nossos irmãos, irmãs, pais e amigos — são deixados para trás.
Estes são os esquecidos de Cabo Verde. Não são números nem estatísticas — são seres humanos, merecedores de dignidade, compaixão e cuidados. O tempo da complacência já passou. Devemos exigir uma verdadeira reforma, investimento real e responsabilidade efetiva no nosso sistema de saúde. Porque ninguém — absolutamente ninguém — deveria ser deixado a sofrer desta forma na nossa amada terra.