O TRAGÉDIA EM SÃO VICENTE: MORTES EVITÁVEIS E O SILÊNCIO DO PODER!

As chuvas torrenciais que recentemente devastaram a ilha de São Vicente deixaram um rastro de destruição: quase uma dezena de mortos, desaparecidos, centenas de desalojados e milhares de contos em prejuízos materiais. Para além da tragédia natural, a catástrofe expôs uma ferida antiga: a negligência do poder público.

Aug 22, 2025 - 08:02
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O TRAGÉDIA EM SÃO VICENTE: MORTES EVITÁVEIS E O SILÊNCIO DO PODER!
Enquanto famílias vivem em condições indignas, em “cazebres” improvisados com bidões e chapas, centenas — senão milhares — de habitações construídas no âmbito do projeto “Casa para Todos” permanecem fechadas há quase uma década. Estas casas, projetadas para reduzir o défice habitacional da ilha, foram deixadas ao abandono por uma decisão política que hoje se revela fatal.
Segundo dados oficiais, o programa “Casa para Todos” previa a construção de 8 500 habitações sociais em todo o arquipélago, número posteriormente reduzido para cerca de 6 000. Até 2022, foram entregues perto de 80% das 5 800 habitações construídas, mas cerca de 1 200 ainda permanecem fechadas ou sem atribuição efetiva. Em São Vicente, onde se estimam mais de 16 000 agregados familiares, centenas de casas permanecem encerradas, enquanto milhares de cidadãos sobrevivem em condições habitacionais precárias.
O Governo, a Câmara Municipal de São Vicente e a IFH aparecem no centro desta controvérsia. Estas entidades, em vez de cumprirem a função social de garantir o acesso à habitação, optaram por manter imóveis encerrados ou colocá-los no mercado para venda, em detrimento de milhares de famílias que continuam expostas à precariedade habitacional.
Especialistas em habitação e líderes comunitários classificam esta postura como uma “cumplicidade criminosa”. A contradição é gritante: por um lado, o Estado e a IFH detêm casas fechadas; por outro, cidadãos sanvicentinos continuam sem teto, vivendo em barracas vulneráveis às intempéries.
O presidente da Câmara Municipal de São Vicente, AUGUSTO NEVES manteve silêncio cúmplice durante todo este tempo, sabendo que grande parte da população vivia no limiar da miséria, em cazebres de bidões, enquanto as casas do "Casa para Todos" permaneciam de portas fechadas à espera de quem pudesse pagar por elas.
Contudo, críticos apontam que a sua responsabilidade vai além da omissão: autorizou a construção de habitações em áreas de risco, como nas linhas de água, o que agravou a vulnerabilidade da população e contribuiu para mortes que poderiam ter sido evitadas.
Para as famílias enlutadas, pouco importa se a culpa cabe ao Governo, à Câmara Municipal ou à IFH. O que fica é a dor de perder entes queridos em circunstâncias que poderiam ter sido evitadas, se políticas públicas habitacionais tivessem cumprido o seu propósito inicial.
A tragédia de São Vicente não é apenas um desastre natural. É também um desastre político e social, marcado pela indiferença das autoridades e pelo incumprimento do dever de proteger vidas humanas.