Primeiro, a erupção do Fogo — uma catástrofe natural sem precedentes que deveria ter unido a nação em torno do seu povo. Em vez disso, milhões de dólares em doações e ajuda desapareceram no ar. Famílias ficaram
deslocadas, promessas foram quebradas e o sofrimento prolongou-se por causa da incompetência no topo.
E agora, o ciclo repete-se em São Vicente. Chegam notícias de que doações enviadas por pessoas generosas nos Estados Unidos — contribuições de alimentos, suprimentos e bens essenciais — foram transportadas pela Guarda Costeira de New Hampshire numa missão humanitária especial. Esta missão, nascida da boa vontade e solidariedade, deveria ter sido um momento de orgulho e alívio para o nosso povo. Mas o que aconteceu? Em vez de entregar a ajuda diretamente a quem precisa, o voo foi desviado para o Sal. A desculpa? Que os bens seriam eventualmente encaminhados de ferry para São Vicente.
Digam-me — onde está a lógica nisto? Onde está a urgência? Onde está a liderança? Isto não é caridade para comício político nem exercício de propaganda. Estamos a falar de vidas em risco. Crianças estão a passar fome. Famílias estão a viver debaixo de tetos colapsados. E, no entanto, o governo trata isto como se fosse um incómodo — uma interrupção ao conforto dos seus gabinetes e às suas sessões fotográficas.
Nos primeiros dias aparecem para as câmaras, fazem discursos, tiram fotografias como se a sua presença fosse suficiente para resolver a crise. E depois? Recolhem-se ao conforto dos seus palácios, dos seus escritórios com ar condicionado e dos seus intermináveis jogos políticos. Enquanto isso, o povo de São Vicente espera — porque os dirigentes não conseguem gerir a mais simples das logísticas.
Onde está a gestão? Onde estão os especialistas em logística? Haverá alguém de facto no comando? Esta é a imagem de um governo que não consegue andar e mastigar pastilha ao mesmo tempo. É uma vergonha perante o mundo e uma tragédia para o povo que paga o preço por tanta incompetência.
E onde estão os “estadistas” — Jorge Carlos Fonseca, Carlos Veiga e os outros que gostam de se apresentar como “guardiões da democracia” e “homens de princípios”? Quando a nação está em crise, onde estão as suas vozes? Onde está a sua liderança? Porque não assumem o comando, não orientam, não trazem dignidade e competência onde os atuais líderes falham claramente? Ou teremos de aceitar que eles também simplesmente não se importam? Que a sua era de serviço foi apenas de auto-serviço e que, agora, preferem o silêncio à responsabilidade?
Cabo Verde merece melhor do que esta comédia de erros. O nosso povo é resiliente, mas a resiliência não deve servir de desculpa para o abandono. Temos o direito de esperar liderança que planeie com antecedência, que administre recursos com transparência e que trate desastres como assuntos urgentes de responsabilidade nacional — e não como incómodos políticos.
A história não perdoará este nível de negligência. E o povo não esquecerá.