Economia cabo-verdiana com uma aceitável (mas não excepcional) dinâmica de crescimento

As últimas informações publicadas pelo INE atestam que a economia cabo-verdiana está com uma aceitável dinâmica de crescimento. Com efeito, os dados provisórios indicam que a economia terá crescido 3.9 % no último ano, após ter registado um crescimento de 3.8% em 2016. Com isso, estará a crescer em torno do potencial.

Apr 5, 2018 - 13:32
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Economia cabo-verdiana com uma aceitável (mas não excepcional) dinâmica de crescimento

As últimas informações publicadas pelo INE atestam que a economia cabo-verdiana está com uma aceitável dinâmica de crescimento. Com efeito, os dados provisórios indicam que a economia terá crescido 3.9 % no último ano, após ter registado um crescimento de 3.8% em 2016. Com isso, estará a crescer em torno do potencial.

Não se pode, porém, ignorar que esse desempenho da economia ocorre num contexto de seca severa, com acentuado impacto negativo na produção agropecuária. Não fosse a seca, o crescimento seria significativamente superior.

Essa dinâmica de crescimento dever-se-á em grande medida ao contexto internacional favorável, embora se deva também admitir algum impacto positivo de medidas tomadas pelo Governo a nível da gestão económica e financeira.

Todavia, estão ainda por fazer as reformas, nomeadamente no que tange à qualificação dos recursos humanos e regulamentação do mercado de trabalho, à previdência social, à melhoria da eficiência da administração pública, ao desenvolvimento do sistema financeiro e à melhoria da eficiência territorial da economia, que reforçariam significativamente o potencial de crescimento.

O impacto da seca regista-se mais a nível do emprego (e do subemprego) do que a nível do produto. Isto porque o sector agropecuário, embora ocupando uma grande parte da população, tem um peso relativamente modesto na geração do produto. Era já mais do que previsível uma degradação a nível do emprego.

Precisamente por isso, não se entende que se esteja a falar da melhoria do emprego, quando os números indicam precisamente o contrário, só porque baixou a taxa de desemprego. Num contexto de elevada volatilidade da taxa de atividade, como é o caso, a variação da taxa de desemprego diz muito pouco, para não dizer quase nada. A taxa de ocupação é um muito melhor indicador porque o denominador (a população em idade de trabalhar) é muito mais estável. E ela baixou. Assim como tinha subido há cerca de um ano.

Temos desta vez uma situação em que o crescimento da economia não é acompanhado de um aumento do emprego. Não há incoerência nenhuma, porque o crescimento também depende da produtividade. Globalmente terá havido um aumento da produtividade da economia. Isto porque o emprego provavelmente terá diminuído na agricultura, onde a produtividade é mais baixa. Ademais, registou-se expansão da atividade em sectores com maior produtividade.

Na estrutura da nossa economia, uma diminuição do emprego na agricultura faz aumentar a produtividade da economia e se simultaneamente se regista expansão em sectores com maior produtividade (como também foi o caso), a produtividade global aumenta mais do que diminui o emprego e temos globalmente um crescimento acompanhado de uma redução do emprego.

Registe-se, por último, que, infelizmente, não se nota ainda nenhuma alteração significativa a nível do perfil de crescimento da economia. Na realidade, o crescimento continua ainda excessivamente dependente da cobrança de impostos para a expansão da administração pública. Como é evidente, resulta desse facto um risco não negligenciável para a sustentabilidade do atual ritmo de crescimento da economia.

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