Nhô Santo António/Brava: “Homem do Mastro” diz-se cansado e com dificuldades em alcançar o topo do mastro

Henrique de Pina, 79 anos, diz-se cansado e já com dificuldades em revestir o mastro, que desde os 12 vem vivendo e mantendo viva a tradição do “mastro”, nas três festas da “Bandeira” da ilha Brava.

Jun 14, 2023 - 15:41
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Nhô Santo António/Brava: “Homem do Mastro” diz-se cansado e com dificuldades em alcançar o topo do mastro

Henrique de Pina, 79 anos, diz-se cansado e já com dificuldades em revestir o mastro, que desde os 12 vem vivendo e mantendo viva a tradição do “mastro”, nas três festas da “Bandeira” da ilha Brava.

A ilha possui uma forte tradição em termos de Bandeira, mas existem aquelas, Santo António, São João e São Pedro, que, desde a antiguidade, vestem “mastros”.

Entretanto, já lá vão algumas décadas que apenas este homem se dedica e tenta manter viva a tradição, e, segundo o mesmo, enquanto tiver vida e conseguir alcançar o mastro que tem cerca de 12 metros de altura vai continuar a vesti-lo.

Mas, Henrique de Pina, vulgo “Djick”, teme que a mesma acabe por perder ou morrer, assim como, tem vindo a acontecer com as outras tradições da ilha, até porque mesmo o número de tocadores e coladeiras está a diminuir.

Conforme contou à Inforpress, a sua ambição e vontade em fazer o mastro despertou aos 12 anos, nos tempos antigos, que recordou como sendo o “tempo de Nho Tui, Nho Totoy, Frank”, figuras que vestiam o “mastro”, em que ele ainda rapazinho, sentava-se no Cutelo, e prestava atenção em cada passo que eles davam para confeccionar e vestir o mastro.

Agora, de acordo com o “mastreiro”, nenhum jovem demonstra esta ambição ou desejo em aprender e fazer o mastro, aliás nem mesmo os seus filhos nunca se interessaram em aprender ou mesmo acompanhá-lo no vestir do mastro e hoje, queixou-se de dificuldades impostas pela idade em alcançar o topo, mesmo subindo pelas escadas.

Recordou que quando criança, em todas as festas da “Bandeira”, deslocava-se até o Cutelo, e observava as pessoas a fazerem as “vergas”, ou a estrutura do mastro, depois vestiam-no, e ele, subia no mastro sem escada e colocava o “mustareu”, pau que é içado à bandeira no fim e, como recompensa, recebia uma canastra (pão em diversos formatos) que levava aos pais.

“Assim, vim com esta ambição e, com o tempo eles morreram, dei continuidade e até agora, com os meus 79 anos, quase 80, preparo o mastro”, mas, com esta idade, de acordo com a mesma fonte, está sendo um pouco cansativo, até porque, revelou que agora já não o faz de graça.

O mastro, até agora, é vestido logo ao amanhecer, quando as pessoas vão levar as oferendas, os festeiros entregam tudo o que possuem para colocar nele, e por volta das 17:00, é dado o “bote”, ou seja, deitam abaixo o mastro e as pessoas vão pegar aquilo que puderem e quem deseja tomar a “Bandeira” para festejar no ano seguinte.

Chegada esta hora, todos se deslocam ao Cutelo para botar a sorte e tentar arrematar alguns bens que se encontram no mastro.

Entretanto, lamenta muito a falta de incentivo por parte dos jovens, porque, segundo o mesmo, hoje em dia, os jovens vão até o Cutelo, onde o encontram, mas nenhum é capaz de o ajudar. Caso houver bebidas, bebem, mas depois que terminar vão embora e “não se preocupam em aprender”.

No mastro, colocam um pouco de tudo, desde pão, frutas, flores, bebidas, dinheiro, mas agora até isso tem vindo a diminuir.

Nos arredores, alguns curiosos que se encontravam no local estavam a “lamentar” e a comentar com “orgulho” a envergadura do homem do mastro, relembrando que na sua juventude nem de escadas precisava, mas que hoje até para subir as escadas apresenta graus de dificuldade.

Djick até sugeriu que a Câmara Municipal da Brava poderia abrir alguma formação de forma a incentivar os jovens a seguir com a tradição da ilha, embora diz ser consciente de que a vontade de aprender deve ser pessoal, mas quando é algo “importante” e não existe boa vontade voluntária é preciso arranjar outras formas de incentivos.

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