Novo Centro de Saúde da Brava continua sem sair do papel após mais de três anos de promessas
Brava, 31 de julho de 2025 (Bravanews) — Prometido há mais de três anos e usado como trunfo nas últimas campanhas eleitorais, o tão aguardado novo Centro de Saúde da Brava continua sem sair do papel. Apesar da publicação de um anúncio de lançamento de concurso público no ano passado, a população bravense ainda aguarda com expectativa — e crescente frustração — pelo início das obras.

A promessa de construção de uma nova infraestrutura de saúde para a ilha foi inicialmente anunciada com entusiasmo pelo Primeiro Ministro Ulisses Correia e Silva em 2022, que destacou a importância da obra para reduzir evacuações médicas e melhorar o atendimento à população. No entanto, o tempo passou, os anúncios se repetiram, mas as máquinas nunca chegaram ao terreno.
O projeto ganhou destaque público em 2023, quando o Governo de Cabo Verde, através do Ministério da Saúde, garantiu que o financiamento estava assegurado e que a localização da nova unidade de saúde já havia sido identificada. Na altura, as autoridades asseguraram que os procedimentos seriam acelerados e que o início da construção seria iminente.
No entanto, foi apenas em setembro de 2024 — mais de dois anos depois da promessa inicial — que o Ministério das Infraestruturas anunciou a abertura do concurso público para a empreitada. A medida foi divulgada como um avanço significativo, a um mes das eleições autárquicas, sendo até destacada em discursos políticos locais como sinal de compromisso e progresso.
Apesar do anúncio, até hoje não há qualquer sinal visível de início das obras. Não há máquinas no terreno, nem qualquer movimentação ou estrutura inicial que indique o arranque do projeto. Pior: as autoridades locais e nacionais têm mantido um silêncio notável sobre o atual estado do processo, alimentando especulações e desconfiança entre os moradores da ilha.
A população bravense, que há anos enfrenta limitações severas no acesso a cuidados de saúde, já não esconde o descontentamento. A atual delegacia de saúde da ilha funciona em condições precárias e não tem capacidade para dar resposta à maioria das necessidades médicas locais. Casos considerados de média ou alta complexidade continuam a ser evacuados para outras ilhas, como o Fogo e Santiago, com todos os riscos, custos e transtornos associados.
"É sempre a mesma conversa. Dizem que vai começar, lançam concursos, mas depois tudo fica na mesma. Estamos cansados", afirma um morador de Nova Sintra.
Outros residentes apontam o que chamam de “requentamento político” da promessa. "Sempre que há eleições, falam do centro de saúde. Já estamos habituados e estamos a contar com esta promessa no próximo ano. Mas saúde não pode ser promessa de campanha. É uma necessidade", destaca uma técnica de saúde local.
O novo centro de saúde, segundo o projeto anunciado em 2024, incluiria salas de consulta modernas, maternidade, laboratório e serviço de urgência, com o objetivo de garantir um atendimento básico e especializado dentro da ilha.
O Ministro da Saúde chegou a declarar, em 2023, que a infraestrutura “iria transformar a realidade da saúde na Brava e reduzir substancialmente as evacuações médicas”. Contudo, sem avanços concretos, as palavras do governo foram perdendo credibilidade perante os olhos de quem mais precisa: a população.
Enquanto o silêncio oficial persiste, cresce a pressão por transparência e responsabilização. Associações comunitárias, profissionais de saúde e cidadãos organizados têm apelado a que o governo torne público o estado atual do processo, o motivo do atraso e o novo calendário previsto para o início das obras.
“Queremos saber: o concurso foi adjudicado? Quem venceu? Qual o prazo para iniciar a construção? Ou será que tudo foi só mais uma manobra política?”, questiona um representante da sociedade civil local.
Sem essas respostas, a desconfiança aprofunda-se e a ilha mais pequena do país continua, paradoxalmente, a enfrentar os maiores desafios em saúde.
A novela do Centro de Saúde da Brava tornou-se um símbolo de promessas não cumpridas, discursos reciclados e prioridades adiadas. A população continua à espera — não apenas de uma obra, mas de um direito: o acesso digno à saúde. Passados mais de três anos desde o primeiro anúncio, a pergunta que ecoa nas ruas de Nova Sintra e em toda a ilha é direta e simples: até quando?