Ilha Brava: O bloqueio do desenvolvimento pela polarização política crônica
Cidade de Nova Sintra, 6 de Outubro de 2025 (Bravanews) - A Ilha Brava, conhecida pela sua beleza natural e riqueza histórica, grandes potencialidades no sector da agricultura, pesca e turismo, encontra-se num ciclo de estagnação que tem levantado uma onda de preocupação e frustração na sua população. Cansados de décadas de promessas não cumpridas, os Bravenses apontam o dedo à excessiva polarização política como o principal factor que tem minado o seu desenvolvimento económico e social. A alternância de poder, descrita por muitos como um "teatro das tesouras", parece resultar mais em anulação mútua de projetos do que em continuidade e progresso, condenando a ilha a um reinício constante a cada ciclo eleitoral.

A polarização política não é um fenómeno exclusivo da Ilha Brava, sendo apontada como um problema sistémico em Cabo Verde, capaz de criar "bloqueios no nosso processo de desenvolvimento," segundo analistas. No entanto, o impacto é particularmente sentido na ilha mais pequena e sem aeroporto do arquipélago, onde cada decisão política tem um peso desproporcional na vida da comunidade.
A crítica recorrente é que, ao assumir a governação local, o novo partido tem como primeiro objetivo "apoucar" o trabalho do antecessor, o que leva à interrupção ou descontinuação de projetos essenciais, independentemente da sua validade. Esta mentalidade partidária faz com que a ilha fique com a "impressão que a cada ciclo eleitoral começa-se tudo de novo," impedindo a acumulação de progresso e a implementação de uma visão estratégica de longo prazo para o concelho. Em vez de uma corrida de estafetas onde o bastão é passado, a Brava vive um jogo de soma zero onde a vitória de um partido se traduz na anulação do trabalho do outro, em detrimento do bem-estar dos cidadãos.
O resultado desta crispação política é visível nos sectores vitais para a sobrevivência e desenvolvimento da ilha, onde os problemas se tornaram crónicos e estruturais:
O transporte inter-ilhas é, de longe, o "maior desafio" da Brava e o pilar fundamental para o seu desenvolvimento. Sem aeroporto, a ilha depende exclusivamente do mar para a connectividade. As autarquias têm alertado repetidamente para a crise no transporte marítimo – nomeadamente a ausência de um transporte de carga regular – que leva à falta de produtos de primeira necessidade e compromete o abastecimento de bens essenciais para comerciantes e a população.
A situação é mais grave em emergências. Incidentes com navios de ligação resultam na suspensão imediata de todas as viagens, deixando doentes (como mulheres grávidas que precisam de acompanhamento no Fogo) e emigrantes retidos na ilha. A oposição tem criticado a "negligência recorrente" do Governo em garantir um serviço marítimo "fiável e resiliente", acusando a ilha de ser tratada como a "última prioridade" no sistema de conectividade nacional.
No sector da saúde, a Brava, que partilha uma região sanitária com o Fogo, sofre com a distância no acesso a serviços especializados. A dependência da deslocação para o Fogo em casos de maior complexidade é um risco constante, agravado pelos problemas de transporte. Além disso, a ilha tem de lidar com falta de tecnicos no sector laboratorial e de analises.
Na educação, um estudo aponta para uma taxa considerável de abandono escolar e destaca as barreiras no acesso à educação e infraestrutura adequada. A falta de perspetivas económicas contribui para a saída massiva de jovens, uma perda de capital humano que hipoteca o futuro da ilha.
A ilha, apesar do seu potencial para o turismo rural e ecoturismo (reconhecido pelo PNUD), e da sua vocação agrícola e marítima, não consegue transformar este potencial em riqueza sustentável. O PIB per capita da ilha Brava, por exemplo, está entre os mais baixos de Cabo Verde, com baixos níveis de produtividade empresarial. A emigração surge, assim, como a válvula de escape para muitos Bravenses, perpetuando o ciclo de dependência e desinvestimento na economia local.
A voz da população e dos observadores clama por uma mudança de paradigma. A necessidade de reforçar a descentralização e mitigar as assimetrias regionais para promover um desenvolvimento económico "mais harmonioso" é urgente. A proposta de criação de uma empresa intermunicipal de transporte marítimo entre os concelhos do Fogo e Brava é um exemplo de iniciativa local que visa contornar a inércia do nível central, afirmando uma autonomia na gestão de um serviço vital.
Para que a Ilha Brava possa, finalmente, "sair do lugar" e realizar o seu potencial, é imperativo que os líderes políticos, tanto a nível local quanto nacional, superem a polarização estéril. A criação de um pacto de regime, consenso local e de uma estratégia de desenvolvimento robusta, integrada e territorialmente justa é o único caminho para garantir que o Porto da Furna seja a porta de entrada para oportunidades e progresso, e não o ponto de partida para a fuga de um futuro bloqueado. O futuro da Brava exige uma política que olhe para além do próximo ciclo eleitoral, focada no bem-estar duradouro dos Bravenses.
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