Período de desova de tartarugas - Uma necessidade de protecção e sensibilização

Cidade de Nova Sintra, 29 Jul (Bravanews) - As tartarugas marinhas apresentam um ciclo de vida complexo, utilizando diferentes ambientes ao longo da vida, o que implica em mudança de hábitos. Embora sejam marinhas, utilizam o ambiente terrestre (praia) para desova, garantindo o local adequado à incubação dos ovos e o nascimento dos filhotes.

Jul 29, 2017 - 04:33
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Período de desova de tartarugas - Uma necessidade de protecção e sensibilização




Cidade de Nova Sintra, 29 Jul (Bravanews) - As tartarugas marinhas apresentam um ciclo de vida complexo, utilizando diferentes ambientes ao longo da vida, o que implica em mudança de hábitos. Embora sejam marinhas, utilizam o ambiente terrestre (praia) para desova, garantindo o local adequado à incubação dos ovos e o nascimento dos filhotes.

Ao nascerem, as tartaruguinhas rumam imediatamente para o alto-mar, onde atingem zonas de convergência de correntes que formam grandes aglomerados de algas (principalmente sargaços) e matéria orgânica flutuante. Nestas áreas, que formam um verdadeiro ecossistema, os filhotes encontram alimento e proteção – e assim permanecem, por vários anos, migrando passivamente pelo oceano.

Algumas espécies podem permanecer no ambiente pelágico por toda a vida, como a tartaruga de couro (Dermochelys  coriacea). Outras passam a fase juvenil em regiões costeiras ou insulares, alimentando-se de organismos bentônicos.

Embora espécies como a tartaruga oliva (Lepidochelys olivacea) atinjam a maturidade entre 11 e 16 anos, as demais só se tornam adultas entre os 20 e 30 anos. A partir daí, passam a viver em áreas de alimentação, de onde saem apenas na época da reprodução, quando migram para as praias onde nasceram.

A época de desova é regida principalmente pela temperatura, ocorrendo nos períodos mais quentes do ano. Em Cabo Verde, acontece entre Junho e Setembro, com variação entre as espécies.

As medidas adotadas por Cabo Verde para preservar as tartarugas marinhas são insuficientes para travar a sua captura e consumo ilegal, concluiu um estudo publicado pela revista internacional de conservação Oryx.

De acordo com o estudo, promovido pela Turtle Foundation em colaboração com Instituto Nacional do Desenvolvimento das Pescas de Cabo Verde (INDP), a legislação de proteção das tartarugas marinhas nas praias cabo-verdianas não está a ser suficiente para travar a sua captura e consumo ilegal.

Os autores do estudo alertam, por isso, para "a necessidade rever as medidas de conservação vigentes, trabalhando diretamente com caçadores e consumidores".

O estudo foi realizado no âmbito do projeto de investigação que Joana Hancock, estudante de doutoramento do cE3c - Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, desenvolveu para o seu mestrado na Universidade de Exeter (Reino Unido).

A população de tartarugas marinhas Caretta caretta de Cabo Verde é a terceira maior do mundo, sendo apenas ultrapassada pelas populações na Florida (Estados Unidos) e em Omã (Golfo Pérsico).

As tartarugas visitam as praias para construir os ninhos e depositar os ovos, estimando-se que em Cabo Verde 85% a 90% da nidificação ocorra nas praias da Boavista.

Cabo Verde introduziu legislação para proteger as tartarugas marinhas pela primeira vez em 1987, proibindo a sua captura em épocas de desova.

As medidas de conservação atuais preveem também a proteção e monitorização das praias com recurso ao voluntariado e, em alguns casos, às Forças Armadas e com uma aposta em ações de sensibilização dinamizadas por Organizações Não Governamentais (ONG).

No entanto, os registos anuais continuam a "evidenciar uma forte influência negativa da ação humana nos níveis de população de tartarugas marinhas no arquipélago".

O estudo foi realizado em 2011, quando uma equipa de investigadores esteve no país, tendo realizado mais de quatrocentos inquéritos a habitantes das ilhas de Boavista e Santiago, com especial foco nas comunidades de pescadores e vendedoras de peixe, tradicionalmente associados à captura e comércio de tartarugas marinhas.

Através destes inquéritos pretenderam avaliar níveis de captura e consumo ilegais de tartarugas marinhas e compreender se as intervenções atuais representam a abordagem mais eficaz para promover a conservação destas espécies.

"A captura e venda das tartarugas é feita para obter um rendimento alternativo em alturas de dificuldades económicas, aproveitando o facto de que ainda há procura desta carne por parte dos consumidores, o que indica a necessidade de uma abordagem socioeconómica da região para desenvolver medidas de conservação mais eficazes", defende Joana Hancock.

O estudo conclui ainda que a aprovação em finais de 2015 de legislação que criminaliza a captura, abate e comercialização de tartarugas marinhas, não trouxe resultados positivos imediatos.

"Na falta de uma abordagem socioeconómica, as medidas de conservação tendem a gerar mais conflitos do que soluções", adiantou.

Os resultados do estudo sugerem ainda que, apesar da aparente redução da captura e consumo, houve uma alteração da captura de subsistência para o comércio, particularmente na ilha da Boavista.

 

MS


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