Brava: CVI prevê transportar 135 toneladas de carga até dia 27, mas comerciantes consideram volume insuficiente e acusam empresa de falta de transparência
Cidade de Nova Sintra, 22 de Dezembro de 2025 (Bravanews) - A Cabo Verde Interilhas (CVI) anunciou uma programação de transporte de cargas para a ilha Brava que prevê o envio de cerca de 135 toneladas de mercadorias até ao dia 27 do corrente mês. No entanto, comerciantes e operadores económicos da ilha consideram o volume manifestamente insuficiente para responder às necessidades de consumo da população, sobretudo num período crítico marcado pelas festividades do Natal e do fim de ano. Mais grave ainda, segundo os comerciantes, a própria execução da programação anunciada já começou a falhar logo no primeiro dia, levantando sérias dúvidas quanto à credibilidade das informações prestadas pela empresa.
De acordo com a programação divulgada, a CVI previa transportar 15 toneladas no dia 22, 16 toneladas no dia 23, 56 toneladas no dia 25 e 48 toneladas no dia 27, perfazendo um total aproximado de 135 toneladas de carga destinadas à Brava. À primeira vista, os números podem parecer significativos, mas, segundo os comerciantes locais, estão muito aquém das reais necessidades da ilha, que depende quase exclusivamente da ligação marítima para o seu abastecimento.
“Só quem não conhece a realidade da Brava pode achar que 135 toneladas em vários dias chegam para alimentar uma ilha inteira, com comércio, restauração, famílias e eventos típicos desta época”, afirma um comerciante contactado pela Bravanews. Segundo os operadores económicos, o volume necessário para normalizar o mercado seria muito superior, sobretudo depois de semanas de atrasos, ruturas de stock e vendas racionadas de produtos básicos como arroz, farinha, batata, cebola, ovos e agua.
As críticas ganharam ainda mais força depois das informações recolhidas junto dos comerciantes indicarem que, hoje dia 22, data em que estavam previstas 15 toneladas de carga, apenas cerca de 10 toneladas terão sido efetivamente embarcadas. Para os comerciantes, este facto demonstra que a CVI não está a cumprir sequer a programação que ela própria anunciou.
“Se dizem que vão embarcar 15 toneladas e só embarcam 10, então começaram logo por mentir. Como podemos confiar que nos dias seguintes vão cumprir o prometido?”, questiona outro comerciante, visivelmente indignado. Na prática, esta diferença de cinco toneladas representa menos mercadoria disponível no mercado local, agravando ainda mais a escassez já sentida pela população.
Os comerciantes sublinham que o problema não se resume a um dia ou a uma diferença pontual de toneladas, mas sim a uma situação estrutural de insuficiência crónica no transporte de cargas para a Brava. Segundo explicam, quando as cargas não chegam em quantidade adequada e com regularidade, os efeitos fazem-se sentir de imediato: prateleiras vazias, aumento de preços, racionamento de produtos e tensão social.
“O consumidor pensa que o comerciante está a especular, mas a verdade é que não há mercadoria suficiente. Quando chega pouca carga, temos de dividir o pouco que há e isso cria conflitos, desconfiança e revolta”, relatam. Para além disso, há produtos perecíveis que, devido aos atrasos e à irregularidade do transporte, chegam danificados ou já sem condições de venda, gerando prejuízos diretos para quem investiu.
Os operadores económicos consideram particularmente grave que esta situação ocorra numa época previsível e recorrente, como o Natal e o Ano Novo, quando o consumo aumenta e a procura por bens alimentares e outros produtos essenciais cresce significativamente. “Não estamos a falar de uma situação inesperada. Todos os anos o consumo aumenta nesta altura. A CVI e as autoridades tinham obrigação de planear melhor”, afirmam.
Para os comerciantes, a programação apresentada parece mais um exercício de comunicação do que uma resposta efetiva às necessidades da ilha. “Anunciar números que depois não se cumprem só aumenta a frustração e a sensação de abandono”, acrescentam.
Face a este cenário, os comerciantes da Brava apelam a uma maior transparência por parte da Cabo Verde Interilhas e exigem explicações claras sobre as diferenças entre o que é anunciado e o que é efetivamente transportado. Defendem ainda a intervenção do Governo e das entidades reguladoras, para que seja garantido um plano de transporte de cargas realista, adequado às necessidades da ilha e cumprido na íntegra.
Enquanto isso, na Brava cresce o sentimento de descrédito e cansaço. Para muitos bravenses, a situação do transporte de cargas deixou de ser um problema pontual para se tornar um símbolo de desigualdade no tratamento entre ilhas e de uma ligação marítima que, longe de servir o desenvolvimento, continua a comprometer o quotidiano e a dignidade da população.
















