CVI responde ao Presidente da Câmara da Brava e admite limites no transporte marítimo, apontando problema estrutural do país

Cidade de Nova Sintra, 22 de Dezembro de 2025 (Bravanews) - A Cabo Verde Interilhas (CVI) reagiu a uma mensagem enviada pelo Presidente da Câmara Municipal da Brava, Amândio Brito, na qual o autarca expressou preocupações quanto à situação do transporte marítimo para a ilha, especialmente no tocante ao transporte de cargas, um tema que continua a gerar forte inquietação entre autoridades locais, comerciantes e a população bravense.

Dec 22, 2025 - 05:29
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CVI responde ao Presidente da Câmara da Brava e admite limites no transporte marítimo, apontando problema estrutural do país

Na resposta, a administração da CVI começa por reconhecer que as preocupações manifestadas pelo edil da Brava são legítimas e refletem uma realidade mais ampla, sublinhando que o transporte marítimo em Cabo Verde é um problema estrutural do país, que ultrapassa largamente a responsabilidade de uma única empresa. Segundo a CVI, a operadora tem feito “um trabalho incansável” com os seus colaboradores e equipas técnicas para garantir o mínimo indispensável às ilhas, chegando ao máximo que é “humanamente e tecnicamente possível” nas actuais circunstâncias.

Relativamente à ilha Brava, a CVI assegura que tem dado o maior cuidado e uma atenção especial, reconhecendo, no entanto, que esse esforço não tem sido suficiente para responder plenamente às necessidades da população. A empresa admite, de forma clara, que apesar da prioridade dada à Brava, os constrangimentos existentes limitam a capacidade de assegurar ligações regulares, fiáveis e previsíveis.

Um dos pontos centrais da resposta prende-se com a perda significativa de armadores privados ao longo do ano, situação que, segundo a CVI, agravou drasticamente a já frágil oferta de transporte marítimo no país. A empresa enumera vários casos concretos: armadores como a Polar e a Atlantic Shipping encontram-se fora de operação devido a avarias, enquanto o navio Nho Padre Benjamim foi perdido por afundamento. Soma-se ainda o caso do Praia D’ Aguada, que, segundo a CVI, já poderia estar a operar, mas permanece inativo por incapacidade de gestão.

Este conjunto de fatores, argumenta a CVI, reduziu drasticamente a capacidade nacional de resposta e sobrecarregou os operadores ainda ativos, num contexto em que a procura por transporte marítimo entre ilhas continua elevada e essencial para o abastecimento, a mobilidade de pessoas e o funcionamento da economia local, especialmente em ilhas mais periféricas como a Brava.

Na sua mensagem, a administração da CVI deixa também um recado político-institucional, afirmando que o “desencanto” manifestado deve ser canalizado para quem, na sua perspetiva, não está a fazer bem o seu trabalho, e não direcionado à CVI, que diz ter feito “os impossíveis” para minimizar os impactos da crise no setor. Embora não identifique diretamente outras entidades, a declaração sugere responsabilidades partilhadas a nível da regulação, planeamento estratégico e políticas públicas para o setor marítimo.

Apesar do tom firme, a resposta termina numa nota de abertura e cooperação. A CVI afirma estar “junta” com as autoridades locais e reafirma a sua disponibilidade permanente para continuar a fazer melhor, mantendo o diálogo institucional como via para encontrar soluções, ainda que limitadas, no curto e médio prazo.

Esta troca de mensagens surge num momento de grande tensão na ilha Brava, onde a irregularidade das ligações marítimas (transporte de cargas) tem provocado dificuldades no abastecimento de bens essenciais, prejuízos para comércio, padarias, restaurantes e hotéis, um sentimento crescente de isolamento entre os residentes. Para muitos bravenses, o problema do transporte marítimo deixou de ser apenas uma questão logística, assumindo contornos sociais, económicos e até de coesão territorial.

A resposta da CVI volta assim a colocar no centro do debate a necessidade de uma abordagem estrutural e nacional para o transporte marítimo em Cabo Verde, envolvendo o Estado, operadores públicos e privados, municípios e a diáspora, sob pena de ilhas como a Brava continuarem a pagar um preço elevado pela fragilidade do sistema.